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Steven Berkoff prestigia estréia de Decadência
Do Diário do Grande ABC
09/01/2000 | 18:12
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O Brasil e, especialmente, a Praia de Copacabana, na zona sul do Rio, certamente entrarao em alguma futura peça do dramaturgo inglês Steven Berkoff. Ele veio ao Rio pa a passar o ano-novo e aproveitou para prestigiar a estréia carioca da peça Decadência, de autoria dele, estrelada por Beth Goulart e Guilherme Leme, que, hoje, iniciou carreira no Teatro Glória. A peça foi um dos grandes sucessos da última temporada paulista e Berkoff credita esse resultado à universalidade do tema abordado.

"A decadência acontece em todos os países e com todas as pessoas", disse Berkoff, na manha de quinta-feira (06), na volta de uma das muitas das caminhadas que fez nas areias de Copacabana nos últimos dias. "Há algo na peça que fala também de gente e ompreendido em qualquer língua e por todo tipo de público", continua. "Esta é a razao da boa resposta que a peça teve do público paulista, de quem a viu na Inglaterra no teatro ou em filme e que, espero, vai se repetir aqui."

No caso de Sao Paulo, ele destaca a atuaçao da atriz Beth Goulart, que o deixou agradavelmente impressionado. Mas nada chamou mais a atençao dele no Brasil do que o contraste acintoso entre os ricos e os pobres brasileiros. "Ricos e pobres existem na Inglaterra também, mas os ricos daqui sao mais ricos e os pobres, mais pobres que lá", explica ele. "Além disso, aqui, as pessoas anunciam, exibem a sua riqueza até fisicamente, dando a impressao de que é necessário cada um mostrar o que e quanto tem para gastar."

Berkoff conta que fez questao de circular entre ricos e pobres, embora reconheça que a pele vermelha de sol denuncie a condiçao de turista. Mesmo assim, ele estebeleceu, para uso próprio, diferenças entre as classes econômicas brasileiras. "Enquanto os ricos sao gordos, lânguidos e portam um rosto sem expressao, os pobres têm vida, choram, cantam, riem e têm um corpo bonito, trabalhado em exercícios ou na lida diária", diz ele. "Nunca vi tanta criança gorda como as ricas daqui, pois, na Inglaterra, desde cedo, a criança deve cuidar-se, ter responsabilidade e trabalhar duro, mesmo as ricas."

O dramaturgo gosta de observar as pessoas e costumes por onde anda e, depois, usar o que aprendeu como elementos das peças ou atuaçoes no palco. Isso porque ele nao consegue escolher qual atividade lhe dá mais prazer, se escrever peças ou atuar nelas. "O trabalho do escritor é duro, construído dia após dia, aos poucos, com um resultado que vem lentamente", define ele. "Já o de ator é imediato, é maravilhoso estar diante de uma platéia, dominá-la, dizer o que pensamos e sentimos e, depois, ser aplaudido e entrar em comunhao com ela" continuou. "É melhor que cocaína... imagino eu, pois nao conheço essa droga."

Berkoff tinha altos planos para a última de semana no Rio. Confessando gostar muito de samba, perguntou qual a melhor escola para visitar e ficou feliz em saber que elas estao na reta final do carnaval e, por isso, esta é a melhor época para conhecer um ensaio. Berkoff pretendia ainda visitar uma favela e se espantou ao saber que, em Copacabana, moram quase 300 mil habitantes. "Como conseguem viver num espaço tao estreito entre o mar e a montanha?", surpreendeu-se.

Apesar da surpresa, nao é a primeira vez que o dramaturgo vem ao Brasil. Em 1987, esteve aqui rodando o filme "Prisioneiro do Rio", sobre Ronald Biggs, um dos muitos papéis de vilao que fez no cinema (trabalhou também em "Octopussy", da série 007, "Laranja Mecânica", de Stanley Kibrick, e "O Legionário", estrelado por Claude Van Damme). Em tempo: Berkoff nao lembra nada esses bandidos. É afável e gentil, contrastando com o físico imponente, de mais de 1,80 metro de altura, e parece ter menos que 63 anos. Ele esteve também em Sao Paulo, em 1999, quando trouxe o monólogo One Man Show, uma antologia de viloes de William Shakespeare.

De volta à Inglaterra, Berkoff nao tem planos muito definidos. "Sou um ator em busca de trabalho", diz. Pode ser que faça o segundo filme como diretor (o primeiro foi a adaptaçao da peça Decadência) ou escreva um novo texto para atuar sozinho no palco. Ele confessa que esse é o jeito preferido dele de estar em contato com o público. "É bom quando há outros atores no espetáculo porque ocorre uma troca, mas, sozinho, você tem de dar-se mais, mas também o público é todo seu", confessa. "E é mesmo por vaidade que prefiro assim."




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