Economia Titulo Mais barato
Preço do carro usado cai
20% após crise mundial

Diante do cenário, revendedoras de seminovos baixaram
ainda mais os valores, vendendo abaixo da tabela Fipe

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
12/02/2012 | 07:00
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A crise financeira internacional, eclodida em setembro de 2008 após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, foi um divisor de águas para o preço dos automóveis. Como muita gente perdeu o emprego, e outros tantos ficaram receosos em perdê-lo, o consumo caiu drasticamente. A fim de contornar a situação, o governo brasileiro decidiu reduzir o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) incidente sobre veículos zero-quilômetro com o intuito de incentivar a produção e as vendas. Foi então que o drama das revendedoras de carros usados começou.

De lá para cá o preço dos veículos seminovos (com até cinco anos de fabricação) e usados despencou 20%, de acordo com dados da Agência Autoinforme até maio do ano passado. E as lojas tiveram de lançar mão de artifícios como promoções e financiamento sem entrada. Porém, no ano passado o mesmo governo decidiu restringir o acesso ao crédito, justamente para remediar o principal reflexo do consumo crescente: a inflação. A medida diminuiu ainda mais as vendas dos usados.

E reduziu também o comércio dos carros zero-quilômetro, que começaram a formar altos estoques e, por conta disso, baixaram os preços, incluíram o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) pago no pacote, jogaram a primeira parcela para depois do Carnaval e fizeram a troca de carro com troco em dinheiro para desovar a frota extra. O resultado foi recorde de vendas em janeiro, mês tradicionalmente fraco para o setor, com alta de 9,81% sobre o total vendido no mesmo mês do ano passado, somando 252,7 mil unidades.

Diante do cenário, as revendedoras de seminovos e usados baixaram ainda mais os valores, vendendo abaixo da tabela Fipe (que mede o preço médio do usado). "O valor de venda caiu para um patamar que não vai mais voltar ao que era. Está cada vez mais caro financiar um carro usado, pois os juros são muito altos, e dificilmente o banco ou financeira vai aprovar sem entrada. É uma situação que vai permanecer", explica Joel Leite, diretor da Autoinforme.

O vendedor Geromo Rubio, da Gilcar, de São Bernardo, conta que os seminovos estão sendo comercializados de R$ 2.000 a R$ 3.000 abaixo da tabela e, os usados, por até R$ 1.500 a menos. "As vendas estão paradas. Ainda assim, nosso maior retorno provém da divulgação na mídia, como jornais diários e especializados e sites do setor."

 

Revendedora paga parcela para cliente que indicar amigo

Para conquistar o cliente e convencê-lo de que o carro usado ainda é atraente, mesmo com a facilidade em adquirir um zero-quilômetro, a Gilcar paga uma prestação do financiamento ou uma parcela do IPVA para o consumidor que indicar alguém que optar por comprar na loja também.

A Akamine, de Mauá, está vendendo com preços até R$ 1.000 menor que a tabela e parcela a entrada em até seis vezes no cartão de crédito. “Como quase não conseguimos mais financiar sem entrada, pedimos pelo menos 10% do valor do veículo como um sinal”, explica Ricardo Ribeiro.

Nas lojas Edcar e Automaxx, de São Bernardo, o gerente Maurício Costa conta que, até 2008 vendia média de 90 carros por mês, que caiu para 60 mensais em 2010 e agora para 50. “Não está fácil vender. Tanto que parcelamos a entrada em até dez vezes no cartão de crédito, cheque ou boleto”, conta. “A gente tem que rebolar. Se as vendas não melhorarem, pensamos em rever a política de preços e pagar o IPVA, licenciamento ou documentação de transferência.”

Marcelo Cordeiro, dono da Lancia Automóveis, de Santo André, conta que o valor muito abaixo da tabela às vezes até atrapalha, pois os clientes estranham. “Em alguns veículos, baixamos até 10% da tabela.”

 

Automóvel fabricado antes de 2002 perde espaço no mercado

Embora os lojistas digam que pegam qualquer carro na condição de a pessoa comprar com eles, há restrição cada vez maior aos veículos fabricados antes de 2000, justamente porque os preços deles estão ainda mais baixos, o que permite margem de lucro menor e porque os juros para financiá-los seguem altos. Sem contar que, os modelos que datam antes de 1992 só são parcelados em até 24 vezes.

“Estamos evitando carros muito antigos, pois fica difícil vendê-los. Damos preferência para os fabricados a partir de 2002”, conta Cordeiro, da Lancia. O seminovo consegue taxas que vão de 1,4% a 1,6%, enquanto que o usado, de 1,9% a 2,5%. “Quando as pessoas fazem as contas, por causa dos juros acaba valendo a pena comprar um seminovo.”

Leite, da Autoinforme, defende que ainda existe mercado para qualquer tipo de veículo, porém, não na mesma região. “As lojas vão repassando para a periferia”, diz. O veículo usado que antes tinha boa saída nos bairros mais afastados do centro, hoje conseguem ser comercializados em cidades mais pobres da região metropolitana e em municípios do interior. “Um carro de R$ 10 mil pode ser um sonho realizado para alguém que nunca acreditou que pudesse comprá-lo.”




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