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BC pode tomar medidas 'impopulares'
28/02/2010 | 07:39
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Em meio às discussões dos economistas sobre a necessidade de elevação do juro básico da economia, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, subiu o tom do discurso. Em pronunciamento, na quinta-feira, ele disse que as decisões da instituição são técnicas e, se necessário, o BC pode tomar medidas "antipáticas e impopulares".

Avisou também que o órgão não é influenciado por fatos do calendário cívico, como as eleições. O discurso enfraqueceu a corrente dos analistas que acreditavam que a esperada alta da taxa Selic seria adiada após as mudanças, anunciadas na quarta-feira, nas regras dos depósitos compulsórios.

O mercado reagiu às palavras de Meirelles e os juros futuros fecharam na máxima. "Atuar de forma consistente significa não evitar decisões tecnicamente justificadas que, no curto prazo, possam parecer antipáticas ou impopulares, mas que visam sim o bem comum", disse o presidente do BC, em discurso durante a posse do novo diretor de assuntos econômicos, Carlos Hamilton Araújo. "Portanto, enganam-se aqueles que esperam mudanças na conduta do BC em função do calendário cívico."

As afirmações foram acompanhadas da lembrança de que uma das principais funções da instituição é "assegurar a convergência da inflação à trajetória das metas". "Atuar de forma consistente significa atuar tecnicamente, com foco exclusivo no mandato legal do banco", reforçou Meirelles.

Logo após o a fala do presidente do BC, as taxas do mercado futuro passaram a subir com força diante da avaliação de que Meirelles sinalizara elevação da Selic para breve. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)para tratar do assunto está marcada para os dias 16 e 17 de março.

Novo ciclo - Nos últimos dias, havia crescido entre analistas a percepção de que o início do novo ciclo de alta da Selic poderia ser adiado em consequência das mudanças no recolhimento compulsório - parcela dos depósitos bancários que fica retida no BC. A partir de 22 de março, será revertida a maior parte das medidas de flexibilização do compulsório adotadas no fim de 2008 para combater os efeitos da crise financeira e injetar liquidez na economia brasileira.

Com a decisão, cerca de R$ 71 bilhões serão retirados de circulação, o que pode ajudar a conter o ritmo de crescimento da economia e dos preços.

Apostas - Atualmente, a principal discussão entre os analistas trata de quando deve começar o ciclo de alta do juro básico. As apostas se dividem entre março e abril. Apesar da divergência quanto ao mês, há consenso de que o BC vai subir a Selic para desacelerar o ritmo da economia e conter a alta da inflação.

O principal foco está na trajetória do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). As estimativas para o indicador oficial de inflação sobem desde janeiro e já estão em 4,86%, acima do centro da meta para o ano de 4,50%. "O discurso mostra claramente que o juro vai subir em breve, provavelmente em março", diz o professor de economia da USP Fabio Kanczuk.

Ele avalia que o discurso de Meirelles mostra que o BC tem uma visão adequada do funcionamento das ferramentas existentes. "Apesar de haver algum efeito compartilhado, o compulsório serve para controlar a liquidez e juro é para a política monetária", explica.

Riscos - Para o especialista, a autoridade monetária não quer correr riscos de usar o compulsório para tentar controlar os preços porque é praticamente impossível medir seu efeito nos juros. "Não há modelos para isso e, sem conseguir medir o efeito dessa medida, o BC teme se atrasar demais para controlar a inflação", diz.

No discurso, Meirelles disse ainda que a sociedade não deve se pautar "pela interpretação de agentes ou jornalistas" sobre os próximos passos da política monetária. A percepção, segundo ele, deve ser construída exclusivamente com documentos da instituição, como atas da reunião do Comitê de Política Monetária, ou pronunciamentos da diretoria do órgão.




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