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Terra dos deuses,
graças a Zeus!
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
22/09/2011 | 07:07
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Em termos de mercado financeiro, a Grécia tem passado por uma crise econômica sem precedentes. O deficit do país chegou a levar lideranças europeias - já desconfiadas do risco de calote - a cogitarem sua exclusão da zona do euro. Em compensação, para o turista a má fase grega é garantia de preços baixos e boa oferta hoteleira, além das estonteantes paisagens que fazem do seu litoral uma terra, literalmente, digna dos deuses, sejam eles do Olimpo ou das Olimpíadas.

Segundo sua mitologia, a Grécia teria sido criada por Zeus (deus da luz, dos céus e dos raios) a partir do cascalho que restou da criação dos outros países. Ao jogar as pedras peneiradas fora, o Todo-Poderoso dos gregos provavelmente sequer imaginava que de lá surgiria o berço dos Jogos Olímpicos e a fonte do pensamento ocidental, da literatura, da dramaturgia e da ideia moderna de democracia inspirada na filosofia de Sócrates e Platão.

Também foi em homenagem a Zeus que, há 2.700 anos, o rei de Olímpia (uma pequena localidade grega) criou a competição esportiva, com a intenção de amenizar as guerras no país. Milênios mais tarde, em 1896, a capital Atenas foi sede da primeira Olimpíada da Era Moderna, proeza que só voltou a se repetir em 2004, quando um turbilhão de construções e reformas revitalizou a cidade por conta dos jogos, garantindo melhorias em complexos esportivos, metrô, aeroporto e em monumentos históricos de valor inestimável.

Entre eles, o lendário Parthenon, edificação construída no século 5 a.C. em homenagem a Atena, a deusa da sabedoria, e considerada o principal cartão-postal da capital grega.

Para chegar lá, o turista deve subir uma colina que leva até a famosa Acrópole, espécie de santuário localizado no ponto mais alto de Atenas. Considerada a mais bela cidade da Antiguidade, a Acrópole revela sua grandiosidade desde a entrada no Propileu - porta monumental, toda em mármore, que mistura os estilos dórico e jônico. De lá se avista o Odeon de Herodes, hoje recuperado e utilizado para concertos.

Além do Parthenon, o local abriga vários monumentos de indiscutível importância histórica, como o templo de Athenea Nike (deusa da vitória), o Museu da Acrópole e o Erechtheion, onde se destacam as cariátides - esculturas de seis sacerdotisas de Artemis, deusa da caça e do parto.

Chama a atenção o fato de essas estátuas femininas sustentarem o teto do templo sobre suas cabeças. Uma representação artística que muito bem se encaixa ao estilo de vida das próprias mulheres gregas ultra-ortodoxas, que até hoje caminham vestidas de negro pela capital ou em meio às casinhas brancas das ilhas Cíclades. Como as esculturas, elas parecem carregar o ‘mundo nas costas' com resignação desde a época das guerras de conquistas gregas, travadas milênios atrás. Impossível passar por elas e não lembrar da recomendação nos acordes de Chico Buarque: "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas..."

 

 

Atrações até para troianos

 

Desde sua fundação e em virtude das mil e uma vicissitudes que marcaram sua história milenar, Atenas jamais deixou de transcender e se diversificar. A mágica da cidade se dá em grande parte pela sua luminosidade. O clima seco da região purifica a atmosfera, conferindo uma transparência cristalina à capital grega. Essa mesma luz nutre os atenienses de energia, plenitude, bem-estar e desejo de viver. E faz com que o povo dessa terra trabalhe com o mesmo fervor com que se diverte.

O cenário alegre resultante da mistura entre velho e novo, Oriente e Ocidente, não poderia deixar de ser múltiplo e é passível de ser descoberto no badalado quarteirão Kolonaki ou no mercado cosmopolita do centro.

A Avenida Kifissias, que liga o bairro de mesmo nome ao de Ambelokipi, também denota o grande mosaico ateniense: telões de cinema a céu aberto, como o antiquado Ellinis, esbarram com salas multiplex, instaladas nos grandes shoppings.

Em Vasilissis Sofias é diferente. O bairro é uma viagem ao passado, onde símbolos da alta burguesia são remanescentes e construções neoclássicas foram transformadas em hotéis de luxo, mas permanecem com as fachadas intactas.

Mas Atenas só é verdadeiramente revelada aos passantes da Avenida Patission. Nos versos da poetiza grega, Katerina Gogou: "A vida nada mais é que um constante ir e vir sobre a Patission".

Faz-se igualmente sagrada a pausa na nostálgica pâtisserie Sonia, trajada em estilo anos 1960, que oferece as melhores tortas, cafés, grãos, peixes, frutas, óleo de oliva, queijos brancos e, datados da primeira Olimpíada, vinhos libaneses para lá de envelhecidos.

Não à toa, a mercearia enraizou-se defronte ao pulmão da cidade, o arborizado parque Pedio tou Areos: uma chance de purificação aos gulosos pecadores!




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