Com as facilidades para conquistar o carro próprio - isenções e acesso fácil ao crédito durante o ano passado - aumentaram também os problemas dos consumidores com as concessionárias e montadoras. Dados do site www.reclameaqui.com.br, mostram que a cada uma hora uma pessoa reclama de montadora no País. Entre 31 de março de 2010 até ontem, o portal contabilizava 10.638 reclamações a montadoras.

A chefe do serviço de defesa do consumidor do Procon de São Bernardo, Ângela Maria Galluzzi, afirmou que está cada vez mais difícil encontrar soluções. E disse que, inclusive, novos transtornos começam a atormentar quem compra carros na região, como danos na funilaria. "Trocando peças o carro pode continuar novo, mas na pintura fica complicado."

As barreiras com as fabricantes são tão grandes que ela contou que em 14 anos, a entidade só conseguiu a troca de dois veículos.

O caminhoneiro Mivaldo de Jesus Ferreira endossa o coro de reclamações. O morador de São Bernardo comprou um caminhão modelo L1620, da Mercedes-Benz, em 2008. Rodados 3.000 quilômetros, começaram os problemas. A bomba de gasolina travou, junto aos bicos injetores. "Levei o caso para a fabricante, que não se responsabilizou, e a concessionária fez apenas o laudo, que constatou que as bombas estavam contaminadas, com água".

Precisando do veículo para trabalhar, Ferreira resolveu arcar com os custos do conserto. Começou aí nova via- crucis. Foram 32 dias de espera pelos itens que vieram da Alemanha, para Curitiba, e depois para São Paulo.

Dois anos e meio depois e mais 240 mil quilômetros rodados - com todas as peças originais e revisões feitas - surgiram rachaduras no bloco do motor. Como perdeu a garantia no episódio com as bombas, a fabricante não o atendeu. "Falaram para eu procurar a oficina da minha confiança, fui obrigado a fazer isso." Só nessa etapa, Ferreira desembolsou R$ 11 mil.

A Mercedes disse que atendeu o caminhoneiro nos dias 24, 26 e 27 de agosto de 2008. Nos dois primeiros, referentes a problemas na partida do motor. No terceiro dia, sobre as bombas de combustível, com laudo de contaminação. A empresa diz que encaminhou Ferreira para concessionária para "ajudá-lo", mas ele teria se "limitado a cotar preços. Não demonstrou interesse na compra de novo motor".

RANKING - Até o fechamento desta edição, a Volkswagen liderava o ranking do reclameaqui. De março de 2010 até ontem, a empresa, que vendeu 697 mil veículos no último ano, computava 1.841 reclamações. Nos mesmos critérios, seguem Ford, Renault, Chevrolet , Fiat, Peugeot, Citröen, Nissan, Kia Motors, Toyota, Mercedes-Benz e Volvo.

A Volkswagen disse que tem variedade de canais de atendimento e que investe nesses serviços. A Fiat explicou que é líder de mercado, com 760 mil vendas em 2010, e não lidera o levantamento. Ressalta que "apesar de o número parecer expressivo isoladamente mostra que, no tamanho do mercado, estamos dentro das condições".

A Mercedes apresentou argumento semelhante quanto ao volume de reclamações. A Volvo não foi localizada par comentar e as demais montadoras não retornaram até o fechamento desta edição.