D+ Titulo Trote
Quais os limites do trote?

Faculdades proibiram a prática dentro das instituições,
mas não têm controle do que acontece fora com os calouros

Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
12/02/2012 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC

O desafio de passar no vestibular foi cumprido. É hora de começar nova fase: a faculdade. Junto com a ansiedade de conhecer pessoas e cursar o que sempre quis, tem o frio na barriga do primeiro dia, sensação natural frente a algo desconhecido. Todo calouro - que no dicionário Houaiss significa indivíduo ingênuo e tímido - sabe dos trotes. Os mais experientes (veteranos) os recepcionam com tintas, cortam cabelos e os levam para os faróis para arrecadar dinheiro.

Seria mais um tradicional ritual de iniciação, se muitos não passassem dos limites e transformassem o que era para ser saudável em algo violento ou até fatal. Tanto que faculdades proibiram a prática dentro das instituições, mas não têm controle do que acontece fora. Por isso, todo ano rola a polêmica: há limites para o trote?

Para a maioria dos entrevistados pelo D+ no primeiro dia de aula de duas faculdades do Grande ABC, é essencial respeitar a opinião do calouro. "É importante dar boas-vindas, mas ouvindo a vontade deles. Além disso, não concordamos com nada que manche a imagem da Instituição", acredita Manuel Barbosa, presidente da Atlética da Universidade Municipal de São Caetano.

"Se não for nada pesado, tudo bem", diz Mariana Gomes, 17 anos, que aceitou ser pintada e participar das brincadeiras da USCS. Rayssa Navarro, 17, também curtiu o futebol de sabão. "Vim com o espírito de participar e conhecer gente." Quando entrou na faculdade, o veterano Dimitri Marcondes, 21, sentiu falta de não ter tido nada. Para ele, dá para se divertir sem intimidar ninguém. "Brinca quem quer." Victor Nakayama, 20, gostou de ser calouro da Faculdade de Direito de São Bernardo. "Não cortaram meu cabelo porque disse que trabalhava e eles respeitaram."

Não participar do trote não significa que vai ser excluído. Bruna dos Santos, 17, optou por não brincar. "Não deixei de conhecer pessoas por isso", conta. A nova colega Aline Fairlana, 17, também não vê sentido. "Não bebo. Para que arrecadar dinheiro no farol?" Lá, os calouros foram pintados, tiveram os cabelos cortados, receberam ovadas e farinha. "A gente não força. Quem quer dar ou receber trote participa, quem não quer pode ir embora", garante Bruno Godoy, presidente da Atlética da Faculdade de Direito de São Bernardo.

TEM MAIS

Algumas faculdades como a Unesp, Unifesp, Unicamp e USP possuem o Disque Trote. Também é possível registrar boletim de ocorrência, se necessário. Acesse o www.antitrote.org e leia mais sobre o tema.

"A recepção dos calouros em si tem significado interessante porque marca fase única da vida, tipo de ritual que faz parte da cultura. Porém, há a ideia errada de que para chegar no mundo adulto é preciso sofrimento", acredita Marcelo Sodelli, professor de Psicologia da PUC e presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD).

A lei 1.023/95, que criminaliza o trote violento, foi aprovada pelos deputados, mas está parada no Senado.




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