Se acha o trote invenção moderna, está enganado. Há registros da atividade na época das primeiras universidades na Europa da Idade Média (século 13). As instituições separavam os calouros, que tinham de assistir às aulas nos vestíbulos (de onde veio o termo vestibulando). Além disso, por razões higiênicas, as cabeças eram raspadas.

No século 15, principalmente nas universidades de Paris, Bolonha e Heidelberg, a relação com os veteranos ficou violenta. Os novos alunos eram obrigados a beber urina e a comer fezes antes de serem declarados ‘domesticados'. Em Portugal, os trotes violentos (praxes) surgiram no século 18 na Universidade de Coimbra. Era praticado o canelão, em que os novatos eram agredidos a caneladas. A primeira morte por causa da praxe foi em 1727, o que fez D. João V proibir a prática.

"Desde o começo o trote foi pejorativo. Os veteranos passaram a se sentir no direito de domesticar os bixos, talvez por que era forma de reproduzir a humilhação que recebiam dos professores", explica Antônio Zuin, professor de Educação da Universidade Federal de São Carlos e autor do livro O Trote na Universidade: Passagens de um Rito de Iniciação.

A palavra trote refere-se a certa forma de se movimentar dos cavalos, que deve ser ensinada, muitas vezes, à base de chicotadas e esporadas. Calouros também são chamados de bixos e bixetes (com x mesmo), denominação que não os classifica como seres humanos.

Segundo o professor, o problema é que a Idade Média passou e o trote ficou. "Hoje, ainda tem a questão da internet e as cenas de humilhação vão parar na rede." Para ele, que é contra qualquer tipo de trote, é preciso repensar a recepção dos calouros como rito de passagem. A primeira providência é contestar a pretensão do veterano de se julgar no direito de domesticar alguém. "O calouro deve ser chamado pelo nome. Por que não perguntar de onde veio e o que pretende? Eventos culturais são boa opção. Ele deve se sentir bem no novo ambiente."

...violência também

O primeiro trote do Brasil foi fatal. Aconteceu em 1831 na Faculdade de Direito de Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco) quando o calouro Francisco Menezes se revoltou com as investidas dos veteranos e foi esfaqueado até a morte. Desde então, todos os anos, casos de violência são registrados. Em 2012, calouro da Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS) foi obrigado a beber gasolina. Veja outros:

1962 - PUC, SP: Calouro foi obrigado a ficar nú e entrar em barril de água com cal. Ele teve o corpo queimado e morreu.

1980 - Universidade Mogi das Cruzes:  Calouro foi abordado por um veterano e, ao proibir que cortassem seu cabelo, foi espancado, entrou em coma e morreu.

1999 - USP, São Paulo: O calouro de Medicina Edison Tsung Chi Hsueh foi encontrado morto após ter sido forçado a entrar na piscina sem saber nadar.

2010 - Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos: Sete novos alunos foram recebidos com creolina, um desinfetante industrial corrosivo. Todos sofreram queimaduras de primeiro grau.