"Tudo o que você sabe fazer bem feito, você tem de transferir para alguém, senao seu aprendizado nao serve para nada." A partir desse princípio, Ana Cláudia Govatto, especialista em marketing e comunicaçao, resolveu abrir uma consultoria voltada a um segmento ainda pouco explorado no país: o marketing social. Em entrevista ao Diário, Ana Cláudia comentou que, após um longo período, os empresários descobriram que o investimento social beneficia o trabalhador, sua família e a comunidade com a qual a empresa se relaciona. Além disso, influencia diretamente no resultado financeiro de um empreendimento, o que lhe garante um diferencial competitivo no mercado. Promover o marketing social significa fortalecer a prática de uma nova mentalidade entre os empresários brasileiros, além do papel de "dono do negócio", apenas.

Diário: O que vem a ser marketing social?
Ana Cláudia Govatto: Na verdade, marketing social é uma filantropia estratégica. As empresas têm feito muitas açoes sociais, só que o plano estratégico é pouco divulgado. Além disso, as pessoas têm aquele conceito de que filantropia nao pode ser falada, tem de ser feita. Mas quando isso é feito levando-se em consideraçao as empresas, esse trabalho tem de ser divulgado porque a sociedade está exigindo que as empresas interfiram mais no processo social. Nao apenas vendo as pessoas como consumidoras, mas como cidadas.

Diário: Como seu trabalho é feito?
Ana Cláudia: As pequenas e médias empresas ainda têm muitas dificuldades para organizar um projeto social, ter um retorno e ainda fiscalizar seu andamento. Muitas empresas já fazem projetos sociais, mas de forma pulverizada. Um exemplo disso sao as doaçoes para instituiçoes assistenciais, tendo como benefício máximo incentivos fiscais ou deduçao no imposto de renda. É aí que eu entro com minha consultoria, oferecendo um trabalho de organizaçao desta área para que as empresas possam estar percebendo os possíveis projetos sociais que podem ser feitos.

Diário: No Grande ABC, quais seriam as melhores áreas para investir num projeto social?
Ana Cláudia: As melhores áreas seriam educaçao, para evitar futuros contratempos, e segurança - grande problema que vem afetando o mundo inteiro - para corrigir algo que está errado. Acho que educaçao e segurança andam juntas.

Diário: Que vantagens uma empresa tem ao vincular sua marca a um projeto social?
Ana Cláudia: Hoje o marketing social é um diferencial competitivo para as empresas, porque tudo o que se faz é copiado amanha. Em termos de produçao, tecnologia, treinamento e capacitaçao profissional, o mercado nao apresenta diferenças significativas. O marketing social, ao contrário, promove situaçoes novas a cada dia. E as empresas que tiverem sua marca associada a isto certamente se consagrarao e se fixarao como provedoras de transformaçoes sociais, que podem representar desde a mudança de maus hábitos em grupos específicos até a melhoria de qualidade de vida de uma regiao ou município.

Diário: Quanto seria o investimento aplicado num projeto social?
Ana Cláudia: Fica difícil dizer. Pode-se realizar um projeto social para dez pessoas como para uma cidade de 700 mil habitantes. Isso depende da disponibilidade da empresa; se ela vai utilizar, por exemplo, recursos que já possui juntamente com alguma verba e se a empresa quer realmente investir nesta área. Depende muito do trabalho de conscientizaçao da necessidade de estar investindo em marketing social.

Diário: Além da disponibilidade para investir, de que mais a empresa necessita para ter sucesso neste tipo de empreendimento?
Ana Cláudia: Toda empresa que quer entrar nesta área - ou mesmo aquelas que estao atuando - precisa de uma boa assessoria, que faça um levantamento das necessidades sociais de uma área ou de um grupo específico com que a empresa pretende trabalhar. Além disso, a assessoria deve detectar a verdadeira vocaçao da empresa como provedora de açoes sociais, captar programas e projetos desenvolvidos pelo terceiro setor que estao abertos para as empresas, criar projetos exclusivos e estabelecer uma comunicaçao séria e eficiente com o mercado de forma que as açoes sociais tornem-se respostas dos questionamentos levantados pela sociedade.