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Brinquedos ficam até 15% mais caros
Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
17/04/2011 | 07:43
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Brinquedos diversos. Manuais e incrementados com a mais alta tecnologia. Alguns até voavam. Esse era o cenário da 28ª edição da Abrin (Feira Brasileira de Brinquedos) que encerrou as atividades ontem. Segundo a Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), foram 1.500 lançamentos expostos. Os itens irão preencher as prateleiras dos varejistas nos próximos meses.

Mas tudo isso por um preço que não irá agradar aos pais. A expectativa é de reajustes de até 15%, a partir dos próximos dias, segundo fabricantes ouvidos pela equipe do Diário.

Empresas nacionais e importadoras têm justificativas para o aumento dos custos. A mais recorrente era o valor de altas puxadas pelas commodities como o termoplástico - matéria-prima usada no desenvolvimento de diversos brinquedos, como bonecos.

Porém, esse não é o único fator. "Neste ano sobe 8% devido à reposição salarial dos funcionários e do preço dos insumos como o algodão, usado na roupa das bonecas, e o papelão", explicou o diretor de marketing da Brinquedos Estrela, Aires Leal Fernandes.

A empresa investirá aproximadamente R$ 20 milhões neste ano (R$ 15 milhões em publicidade e R$ 5 milhões no desenvolvimento de produtos) - 15% a mais que no ano passado. E, assim, repetir o crescimento de 20% de 2010. O setor, no geral, cresceu 11% no ano passado, segundo a entidade do setor.

Sete empresas compuseram o rol de representantes do Grande ABC na Abrin, que tem montante de 508 companhias no País - numa indústria que deve movimentar R$ 3,5 bilhões neste ano e emprega 24 mil trabalhadores.

Com sede em São Bernardo, a Grow não soube precisar quanto o evento representa da receita anual, mas disse que a missão foi apresentar os novos produtos. "Os principais diferenciais são naqueles itens com tecnologia agregada", disse o gerente comercial, Gustavo Arruda.

A empresa não divulgou valores, mas contou que os investimentos serão 10% maior em relação a 2010. Os reajustes ficarão entre 7% a 8%, mas não ocorrerão de maneira uniforme. "Alguns terão o mesmo preço, mas os que têm peças plásticas são mais afetados, pois essa matéria-prima subiu muito nos últimos 12 meses."

A Nillo, de Diadema, conta com brinquedos 100% produzidos no Brasil. Uma das responsáveis pelas vendas, Sandra Yomada, declarou que a intenção é segurar os reajustes ao consumidor final. Mas por conta do cenário econômico, reconheceu que haverá aumento entre 3% a 5%.

Já o diretor da importadora Sunny, Isaac Candi, afirmou que os valores ao consumidor final serão de 10% a 15% neste ano. Os investimentos anuais são de R$ 1,5 milhão. "Esperamos comercializar 25% mais em 2011."

Mas há empresas que descartam elevar os valores no curto prazo, como a Long Jump, conforme o diretor comercial, Luiz Fiorini. A maior parte do catálogo da companhia é importada - com cerca de 15% dedicado à produção de brinquedos com pelúcia produzida no Brasil. A aposta é crescer 20% neste ano.

Margem próxima das estimativas da Gulliver, de São Caetano. Um dos responsáveis pelas vendas, Cícero Ribeiro, prevê vender 15% a mais. Ele ainda acrescentou que a feira tem peso importante. "Representa até 8% do faturamento do ano ou um mês de ganhos." Ele afirmou ainda que os reajustes serão de até 8% nos próximos dias.

 

Avalanche de importados gera reclamações

Um tema que gera polêmica entre representantes do setor de brinquedos é a invasão dos chineses. Sandra Yomada, executiva da Nillo, afirma que a concorrência é desleal e a mão de obra é barata. "Somos produtores nacionais, e sofremos muito com isso."

Para empresas 100% nacionais a ampliação da representatividade asiática preocupa. "Antes eles (importados da China) entravam aqui livremente. Nós empregamos 130 funcionários. Em setembro esse número subiu para cerca de 300. Os chineses não geram empregos no País", critica Sandra.

O diretor de marketing da Brinquedos Estrela, Aires Leal Fernandes, aponta que mais fiscalização da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) junto à PF (Polícia Federal) e Receita Federal contribuíram para diminuir o subfaturamento da indústria brasileira.

Sinal de que o mau momento pode começar a mudar. Atuações da Receita e da PF para fiscalizar os portos e impedir entrada de itens irregulares e piratas ajudam a dar sobrevida a indústria do País.

"Além disso, produtos licenciados também são comunicados às empresas licenciadoras para ver se o produto que chega é referente de fato à empresa que está importando. Isso inibe a pirataria", diz Fernandes.

Ele acrescenta que como a China é a maior fabricante mundial do setor, a alternativa é tirar proveito disso. "Temos trabalhado com peças e componentes de lá para dar um upgrade no produto nacional, e ter performance mais interessante." Itens como chips, peças e partes mecânicas compõem essa gama.

O câmbio desvalorizado, que é um atrativo para os asiáticos em decorrência da enxurrada de dólares entrando no Brasil, é o pilar central das discussões. Mais equilíbrio permitiria até que empresas da região, como a Grow, pudessem exportar seus produtos. "Hoje isso praticamente não existe", pontua o gerente Gustavo Arruda.

O cenário econômico atual reflete a participação dos estrangeiros. A Estrela tem hoje 60% da composição dos brinquedos de origem nacional e 40% importada. "Se o ramo caminhar sob as premissas da Abrinq de buscar alternativas do ponto de vista da legislação e certificação, temos condições de triplicar nossa produção", destaca Fernandes.

O aquecimento no mercado, fruto de mais emprego e renda - que possibilitou a entrada de mais consumidores no setor, reforça a possibilidade de ampliar o peso do Brasil nos brinquedos em até 70% nos próximos cinco anos. Maior atuação do governo para conceder estímulos é importante para alcançar a meta, finaliza Arruda.




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