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Defesa Civil lacra Edifício Senador

Futuro do prédio onde ocorreu desabamento segunda-feira
vai depender de laudo emitido pelo Instituto Criminalística

Por Rafael Ribeiro
Cadu Proieti
09/02/2012 | 07:00
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Palco de desabamento parcial das lajes na noite de segunda-feira, que matou duas pessoas e feriu outras seis, o Edifício Senador, no Centro de São Bernardo, foi lacrado por tempo indeterminado, ontem, pela Polícia Civil e a Defesa Civil da cidade.

Segundo o delegado Victor Vasconcellos Lutti, titular do 1º DP (Centro) da cidade, apesar de não correr risco de desabar, conforme perícia preliminar do IC (Instituto de Criminalística), não há condições de as pessoas circularem no local com segurança. A reabertura depende da divulgação do laudo que está sendo preparado pelo IC e que deverá ficar pronto em cerca de 30 dias.

Será o documento que apontará as causas do acidente. Uma explosão e queda de caixa-d'água estão descartadas pela polícia. A principal suspeita é de que haja infiltrações e vazamento de água no prédio. Para ajudar na apuração do inquérito policial, um pedaço da manta asfáltica usada para impermeabilizar o terraço será enviado ao Instituto de Pesquisas Tecnólogicas. A obra, realizada há cerca de um ano, sem autorização da Prefeitura, pode ter ajudado no desgaste do alicerce do prédio. "De repente, a construção não aceitou bem essa manta. Queremos saber tudo: quem fez, como foi feito, quais materiais foram usados e quanto pesa", disse Lutti.

"A obra foi muito bem feita", afirmou o advogado Lauro Salera, 69 anos, há dez deles síndico do Senador.

"Nunca nenhum condômino reclamou ou denunciou que houvesse vazamento de água", completou. Na terça-feira, ele negou à polícia que tivesse feito qualquer obra de impermeabilização. Voltou atrás ontem, após peritos atestarem que houve intervenções periódicas no terraço. "Foi uma catástrofe, é cedo para fazermos qualquer apontamento. Tudo é hipótese", disse Lutti.

Ontem, os bombeiros terminaram o trabalho de remoção das cerca de 300 toneladas de entulho. A partir de agora, os peritos do IC e a Defesa Civil concentrarão os trabalhos dentro do prédio. Alguns pedaços de vidro e tijolo que ameaçavam cair na calçada da Avenida Índico foram retirados. Para aumentar a proteção, todo o contorno do edifício foi cercado por tapumes.

Para controlar o acesso de patrões e funcionários aos escritórios para a retirada dos pertences, a Polícia Militar precisou distribuir senhas. A demora foi grande. Um médico que chegou por volta das 9h só conseguiu sair com os prontuários, medicamentos e equipamentos mais de oito horas depois. "Foi uma despedida", brincou. "Não tem como culpar alguém agora. Vamos esperar as coisas com calma, nos recuperar dessa tragédia."

Pai de menina morta tem boa recuperação, diz família

Único dos seis feridos que ainda permanece internado, o biomédico José Fabrício Moraes, 37 anos, já apresenta quadro de melhora e deve receber alta em breve. Segundo o irmão dele, o farmacêutico Flávio Moraes, 26, José Fabrício teve pequenas escoriações pelo corpo.

"A recuperação está sendo ótima. Ele está progredindo muito bem, logo mais deve estar com a família", disse Flávio.

Foi do quarto no Hospital São Bernardo que José soube da morte da filha de 3 anos no desabamento das lajes do prédio no Centro de São Bernardo. Ele estava ao lado da menina na sala de espera de uma clínica no sexto andar onde a mulher, Francisca Kelly Moraes, 31, passaria por consulta. Ela já recebeu alta.

"Eles sentem muito pela perda da filha. É muita dor. Meu irmão pensava que ela tinha sido salva. Na hora ele só pensou em agarrar a Júlia para tirá-la dali", disse Flávio. Os irmãos se revezam para acompanhá-lo no quarto desde o ocorrido. Segundo ele, a força de parentes e amigos vem sendo fundamental para a família superar o trauma. "É incrível o apoio que recebemos. Temos que nos unir nessas horas", apontou. (Rafael Ribeiro)

Se local for liberado, lanchonete voltará a funcionar

O proprietário da lanchonete Nova Rainha, que ficava no térreo do Edifício Senador, Jorge Deidami, 50 anos, afirmou que pretende reabrir o estabelecimento se o local for liberado pelos órgãos competentes. "Foi uma fatalidade. Se arrumarem direitinho, vamos continuar. Querendo, ou não, vou perder tudo. Então, se liberarem, vamos tentar retomar", disse o comerciante.

À frente da lanchonete há um ano e meio, Deidami foi até o prédio na manhã de ontem tentar contabilizar o prejuízo. "Vamos remover as mercadorias e ver o que a gente faz com elas. Tenho que esperar para ver o que irão decidir, se vão reformar ou demolir o prédio. Se demolirem, vou perder tudo o que investi", declarou.

O proprietário contou escapou do desastre por instantes. "Estava vindo para cá, de local perto, pouco antes do acidente. Graças a Deus saiu todo mundo correndo e deu tudo certo. Nenhum funcionário se machucou", relatou.

Valter Luiz Pallazo, 50, proprietário de financeira no 12º andar há um ano, é mais um que pretende retomar as atividades normalmente se o edifício for reaberto. "Foi acidente da natureza. Voltarei sem medo porque é um prédio muito bom", afirmou o empresário.

O ginecologista Valdir Moreno, 54, possui consultório no sexto andar há 30 anos e também não vê problemas em atuar novamente no edifício. "Se o prédio for reformado e me derem totais garantias de segurança, voltarei tranquilamente", garantiu o proprietário das salas 65 e 66.

O carro de Moreno estava no estacionamento localizado no subsolo do edifício e foi totalmente destruído. Apesar dos prejuízos financeiros, o médico não se sentiu em baixa. "Meu maior patrimônio está em casa, que são as três filhas e minha esposa."

Com medo, a esteticista Mirian de Brito Sartori, 64, não pretende voltar ao local. Ela pagava aluguel da sala 63, ao lado do consultório onde estava Júlia Moraes, 3, que morreu no desabamento. "Já estou procurando outro lugar para trabalhar. Os clientes não se sentirão bem aqui", salientou. (Cadu Proieti)

Enfermeira é enterrada em Rio Grande da Serra 

Mal sabia a enfermeira Patrícia Alves Farias de Lima, 26 anos, que o último fim de semana com festa de aniversário, banho de piscina e prato regado a porco no tacho seria sua despedida dos familiares. Ontem à tarde, no Cemitério Municipal São Sebastião, em Rio Grande da Serra, o corpo da jovem foi sepultado. Ela é a segunda vítima fatal do desabamento parcial do prédio de 14 andares na região Central de São Bernardo.

"A Patrícia estava muito feliz", relembrou o tio Marcelo Aparecido de Souza, 40, um dos seis irmãos da mãe da enfermeira, durante o velório da sobrinha no Hospital Ribeirão Pires, unidade de Saúde particular. Foi na casa dele que a enfermeira se divertiu na piscina.

E a mulher de Souza acrescentou: "Era uma moça de bom coração, dedicada e esforçada", afirmou Andrea Mendes, 37, tia de Patrícia.

Paty, como era carinhosamente chamada, estava sempre rodeada de familiares. Tudo era motivo para festa - aliás, faz parte do DNA dos pais, nascidos na Bahia.

Mas a união de tios, cunhados e primos ficou evidente também na dor. Desde o desaparecimento da enfermeira, na segunda-feira, pós a destruição de todas as salas com final 4, familiares permaneceram em vigília para que Patrícia fosse encontrada com vida. Praticamente permaneceram 36 horas sem dormir - o corpo da jovem só foi liberado ontem, por volta das 8h, do IML (Instituto Médico-Legal) de São Bernardo.

Alguns amigos, como Luiz Galafassi, 46, morador em São Bernardo, a partir da notícia do desaparecimento da enfermeira, percorreu hospitais da cidade para, quem sabe, encontrar Patrícia internada em algum lugar internada. O que não se concretizou. O corpo da jovem foi encontrado sobre os escombros, no subsolo do imóvel, após busca dos bomeiros.

Casada há quase três anos, a jovem morava em Ribeirão Pires e iniciaria o curso de pós-graduação na área de Saúde, sua grande paixão. Havia oito anos que trabalhava em consultório médico no Edifício Senador - também prestava serviços no Hospital Mário Covas, em Santo André. Nos últimos tempos, passou a dedicar as horas livres do ambiente hospitalar ao atletismo.

Começou, então, a correr. No domingo, ao passar em frente ao cemitério de Rio Grande, o tio Souza brincou: "Paty, vamos correr e sair logo daqui." Segundos depois, o carro da funerária, coincidentemente, passou pelo local, quando a enfermeira teria respondido ao tio, de forma humorada: "Veio me buscar".




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