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Plantio da safra de inverno está atrasado no PR
Do Diário do Grande ABC
23/05/2000 | 15:55
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Os baixos preços recebidos pelos produtores estao desestimulando o plantio de feijao na safra de inverno no Paraná. O plantio, realizado abril e junho, está atrasado, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná.

"A área de plantio, até o momento, nao chega a 5% da verificada no ano passado no Estado, nesta época do ano", afirma o engenheiro agrônomo Gilberto Martins Bello. Segundo ele com o atraso, é praticamente certo que haverá falta do produto entre os meses de julho e agosto, além de outubro, época da entressafra da cultura, o que deve provocar o aumento de preços do produto.

A avaliaçao de Bello, no entanto, é contestada pelo pesquisador Nelson Batista Martin, do Instituto de Estudos Agrícolas (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de Sao Paulo. Na opiniao de Martin, nao haverá falta de feijao em quaisquer dos Estados das regioes Sudeste e Sul do País. "O Nordeste, que é o maior consumidor do feijao no país, vai ter uma ótima safra e, por isso, nao vai comprar um grao sequer dos produtores do Sudeste", explica.

Ele afirma também que o plantio na regiao Centro-Oeste está dentro das projeçoes e que, por isso, haverá excedente de produçao. "Sem o Nordeste para comprar a produçao, o excedente será suficiente para abastecer as regioes Sudeste e Sul", justifica Martin.

Sobre um possível aumento de preço, Martin projeta que, em outubro, o valor da saca de 60 kg paga ao produtor em Sao Paulo terá o cotaçao média de R$ 50. No Paraná, Bello afirma que os preços médios das sacas deverao subir de R$ 30 para R$ 33 já no fim de junho.

Retençao - Das 102 mil toneladas de feijao carioca projetadas para serem produzidas na safra seca do Paraná, 75%, ou 76,50 mil toneladas, já foram colhidas, segundo levantamento do Deral. O destino da maior parcela do feijao colhido, no entanto, está sendo os armazéns dos produtores. "Apenas 32% do feijao colhido até agora foi comercializado", afirma Bello. Ou seja, somente cerca de 24,48 mil toneladas foram vendidas pelos agricultores, enquanto as 52,02 mil toneladas restantes continuam estocadas, aguardando melhor preço.

Bello justifica que "o preço médio pago no Paraná está em R$ 30, e os produtores estao esperando o aumento da procura para conseguir um preço maior para este feijao".

Algumas regioes estao pagando preços maiores pelo feijao de classificaçao tipo 1. É o caso de Paranavaí e Londrina, cujos preços sao, respectivamente, de R$ 39 e R$ 42 por saca de 60 kg. Nelson Martin, do IEA, alerta sobre o risco de manutençao dos estoques. "Nao há margem para o preço subir muito nesta época de safra. Além disso, os consumidores das regioes Sudeste e Sul do país têm muita facilidade na substituiçao desses produtos, como por exemplo, ampliando o consumo de massas."

Bello relembra também a experiência malsucedida com o feijao preto na safra passada. "Pelo menos 20% da produçao de feijao preto continua estocada e os produtores nao conseguem preço superior à R$ 24 por saca. O problema é que esse feijao está envelhecendo, e a classificaçao deverá ser rebaixada, e o preço reduzido. Por outro lado, tem feijao preto novo chegando da Argentina ao custo de R$ 30 a saca, o que deve dificultar muito a venda da produçao estocada." Para Bello, os produtores paranaenses só obtiveram lucro com o feijao carioca colhido nesta safra em funçao da boa qualidade do produto colhido. "Apesar da seca, quase toda a safra recebeu classificaçao tipo 1, o que proporcionou ganho no preço final", afirma.

O engenheiro agrônomo afirma que uma das principais dificuldades da cultura resulta da queda do consumo anual por habitante. "O consumo do brasileiro, que já foi de 23 kg/ano na década de 70, e caiu para 18 kg/ano na década de 90, hoje é de 14 kg/ano. No mesmo período, vimos o consumo de frango, por exemplo, disparar."




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