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Sicília é uma ilha cercada de história por todos lados
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
18/06/2003 | 18:57
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Não adianta. Quando o assunto é Sicília, na Itália, a primeira figura que vem à cabeça é sempre a daquele sujeito de cara fechada, charuto na boca e terno impecável, pronto para ordenar o assassinato de mais meia dúzia de “inconvenientes” em troca de uma maleta cheia de verdinhas. Afinal, foram décadas de filmes sobre a poderosa máfia siciliana. Mas não pense que encontrará um membro da Onorata Società dando sopa pelas esquinas de Siracusa como sugerem os roteiristas de cinema. Os mafiosos, aliás, nem moram mais lá. Pena para eles, sorte para os turistas que, ao visitar a Sicília, surpreendem-se com muito mais atrativos dignos de ganhar as telas do que pôde sonhar a vã filosofia hollywoodiana.

Além de ser a maior ilha do mar Mediterrâneo, com 25.708 km², a Sicília possui o maior vulcão da Europa, o Etna, e um conjunto arqueológico para Indiana Jones nenhum botar defeito. Isso sem falar nas suas praias de mar azul-turquesa e no sol, que faz questão de marcar presença em praticamente todos os dias do ano. Não é à toa que mais de 15 dominadores diferentes disputaram a região desde a pré-história até a época contemporânea.

Primeiro foram os fenícios. Depois, vieram gregos, romanos, bizantinos, vândalos, árabes e por aí afora. Só no século XVIII, seu território passou pelas mãos de pelo menos três importantes conquistadores: os Savóia do Piemonte (1713), os austríacos (1720) e os Bourbon espanhóis (1734). Até que, num belo dia, o lendário Giuseppe Garibaldi – aquele mesmo que participou da Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul – resolveu acabar com esse infindável troca-troca na Sicília e anexou a ilha ao reino da Itália em 1860, com sua Spedizione dei Mille.

O motivo para tantos povos se apossarem do território estava não só nos seus atrativos naturais como na estratégica posição geográfica da ilha. Separada da Itália por um canal de apenas 3 km – o estreito de Messina – e a 140 km da África, a Sicília representava um grande alvo de cobiça entre os comerciantes europeus e africanos.

E com tanta gente disputando a região, a conseqüência não poderia ser mesmo outra senão uma verdadeira salada de influências que resultou num conjunto arquitetônico para lá de diversificado, com teatros gregos, pontes romanas, mesquitas sarracenas, castelos normandos e catedrais bizantinas. Relíquias históricas que a tornaram conhecida como Museu Arqueológico da Europa.

Impossível não deixar o pensamento viajar no tempo diante de monumentos como o teatro grego de Siracusa ou as ruínas romanas da Catânia, entre tantas outras preciosidades da Antigüidade. O mais curioso é que o acesso a esse passado distante é feito por estradas e viadutos ultramodernos, rumo a qualquer uma das três extremidades da ilha: Messina, Trapani ou Siracusa. Juntas, essas localidades formam a figura de três pernas que simboliza a Sicília e que levou os gregos a batizarem-na de Trinacria (que significa triângulo) durante o período em que predominaram na ilha.

Mas, se depois de conferir de perto toda essa riqueza arqueológica, banhada pelas inconfudíveis águas do Mediterrâneo e vigiada pelo Etna, você ainda tiver vontade de ver algum mafioso, uma dica: compre uma passagem para Hollywood ou alugue uma fita de O Poderoso Chefão III na locadora mais próxima, porque na Sicília quem dita as regras hoje em dia é apenas a natureza.




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