A primeira-dama da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, e sua antecessora, Hilda 'Chiche' Duhalde, vêm se enfrentando na campanha das eleições legislativas de domingo e brigam pela herança do estilo de Evita Perón, a carismática segunda esposa do falecido presidente Juan Perón.

A esposa do presidente Nestor Kirchner parece ter garantido o triunfo na província estratégica de Buenos Aires por ampla margem sobre 'Chiche' Duhalde, a outra candidata ao Senado, mas segue aberto o desafio para o legado de Evita Perón.

Para muitos, a primeira-dama de 52 anos é a eminência parda do governo e uma das principais responsáveis pelas grandes linhas da política conduzida por seu marido, como acontecia com Evita há quase seis décadas.

Elegante, bonita e com boa formação intelectual, Cristina maneja bem a arte da oratória com frases contundentes e declarações que suscitam emoção.

A diferença com Evita é que a esposa do ex-presidente Perón emocionava milhões de seguidores entre o fim dos anos 40 e 1952, ano de sua morte, enquanto que Cristina tem de se contentar com platéias muito mais modestas, devido à deterioração da imagem dos políticos.

Diante de 30 mil pessoas, Cristina encerrou sua campanha na noite de quinta-feira no feudo peronista de La Matanza, lançando um apelo para "esquecer o passado e olhar para o futuro".

De personalidade forte, a popular Cristina tem uma ampla experiência política que nasceu nos conturbados anos 70 na cidade de La Plata, onde conheceu o atual presidente, e se fortaleceu nos cargos legislativos que ocupa de forma ininterrupta desde 1989.

Nestor e Cristina Kirchner estudaram na prestigiosa universidade estatal de La Plata, onde se formaram como advogados e militavam no movimento Juventude Peronista. Os dois se casaram em 1975 e, quando ocorreu o golpe militar que instaurou uma ditadura feroz na Argentina, se refugiaram na fria e inóspita província de Santa Cruz - onde o atual presidente nasceu e deu início a sua carreira política.

Kirchner apostou na esposa, atual senadora de Santa Cruz, para conquistar a província de Buenos Aires contra a mulher do ex-presidente Eduardo Duhalde, de quem se distanciou.

Ao contrário de sua adversária, 'Chiche', uma professora de 59 anos, mostrou durante a campanha um tom afável e quase íntimo, mas, em um último esforço de inverter a tendência nas pesquisas de opinião - que apontam a vitória da esposa de Kirchner - exibiu uma surpreendente dureza.

"Aos que pedem mais poder, nós oferecemos mais controles, para evitar que iluminados e soberbos esqueçam o que são realmente: humildes representantes da vontade popular", clamou 'Chiche'.

A esposa de Duhalde, em sua tentativa de se distanciar do progressismo de Cristina Kirchner, não duvidou em formar uma aliança com o questionado dirigente Luis Patti, acusado de violações dos direitos humanos durante a ditadura.