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Peças abordam temas do cotidiano em Sto.André
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
02/09/2003 | 18:33
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Em uma das cenas da peça Cantos Periféricos o ator Cássio Castelan interpreta um bandido bêbado que cai no chão e passa mal. Nesse momento, durante a encenação ocorrida domingo passado à noite, no Centro Comunitário Jardim Santo Alberto, em Santo André, um dos adolescentes da platéia cutucou o amigo ao lado com o cotovelo e disse: “Olha, parece o cara lá da nossa rua”.

Na primeira apresentação do espetáculo do Teatro da Conspiração, grupo formado há três anos na ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André, essa manifestação do jovem foi apenas um entre os tantos exemplos que evidenciaram a identificação do público com os temas abordados.

Entre os personagens da peça há ainda figuras como o drogado que bate na avó e a grávida que sofre na fila do hospital. “O objetivo não é fazer um documentário de como é a periferia, tanto que muitas das situações que tratamos não são exclusivas de quem vive à margem. Quem acompanha os noticiários sabe por exemplo que desavenças entre drogados e seus familiares não ocorrem só na periferia”, disse Solange Dias, autora do texto e diretora do espetáculo e do grupo.

“A peça mostra fatos que todos sabem que existem, mas preferem empurrar com a barriga em vez de solucionar. O que é apresentado, nós da periferia conhecemos de cor e salteado. São coisas que a gente vê e vive todo dia, a toda hora. Quando vamos trabalhar, é sempre de ônibus lotado. Bêbado infernizando é bem comum. Isso é o que mais tem”, afirmou Eduardo Trajai, 28 anos.

“Gostei do espetáculo porque ele tem tudo a ver com o nosso cotidiano. Muitas das situações apresentadas eu já senti na pele”, disse Nelson Vitorino, 31. “Esses dias mesmo peguei um ônibus que foi assaltado. Quer dizer, a peça fala de assuntos muito próximos do que enfrentamos no dia a dia. Acho importante o teatro mostrar isso, para que as pessoas vejam como o povo da periferia é sofrido”, afirmou Elecesina Rodrigues de Macedo, 53, que foi ver a peça acompanhada de duas filhas e quatro netos.

Cantos Periféricos foi exibida em uma estrutura improvisada no pátio da escola que integra o Centro Comunitário. As cadeiras de plástico disponíveis ao público eram poucas em vista do público presente, cerca de 150 pessoas. Muitas assistiram ao espetáculo em pé, mas mesmo assim não reclamaram.

“Fiquei impressionada com a atenção do público. Embora a estrutura não fosse confortável, as pessoas foram pacientes, ficaram lá. Mesmo com a platéia podendo sair, ou mesmo atrapalhar, o que ocorreu foi o contrário. Ficou clara a tentativa delas de acompanhar ao máximo a peça”, disse Solange.

A diretora confirmou que os temas abordados fazem parte da vivência tanto dela quanto do grupo. “Sabemos do que estamos falando”.

A apresentação de domingo foi a pré-estréia do espetáculo e encerrou a Mostra Santo André de Teatro Contemporâneo. Cantos Periféricos tem estréia oficial programada para os dias 15 e 16 de novembro, no Teatro Municipal de Santo André.




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