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Amapá: populaçao apresenta contaminaçao por mercúrio
Do Diário do Grande ABC
20/07/1999 | 18:03
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Um estudo feito por 15 cientistas, realizado ao longo dos últimos quatro anos, revela que uma parcela da populaçao do Amapá está contaminada com índices "preocupantes" por mercúrio, um metal que afeta o sistema nervoso central e que pode levar à morte. Os pesquisadores levantaram as condiçoes de solo, atmosfera e das águas na Serra do Navio e na regiao de Tartarugalzinho, áreas que sofreram forte impacto dos garimpos nos últimos anos, constatando a gravidade da situaçao. Em alguns locais, os níveis de contaminaçao chegam a 22 partes por milhao (ppm), acima do índice considerado sceitável pela Organizaçao Mundial de Saúde (OMS).

O "Estudo do Ciclo do Mercúrio no Ecossistema da Floresta Amazônica - Avaliaçao do Impacto de Mineraçao de Ouro com a utilizaçao do Mercúrio" é uma das mais profundas análises já realizadas sobre o assunto no País. Foram retiradas amostras de cabelos de pescadores e de suas famílias e também amostras de diferentes peixes. Os níveis mais alarmantes de contaminaçao por mercúrio foram detectados no Lago Duas Bocas, próximo a Tartarugalzinho, a leste do Estado, o primeiro de uma série de lagos que desembocam no norte do Amapá.

O nível de contaminaçao por mercúrio nos cabelos da populaçao do Lago Duas Bocas, formada em sua maioria por famílias de pescadores, atingiu 22 partes por milhao (ppm), índice bem acima do que é admitido pela Organizaçao Mundial de Saúde (OMS), para gestantes. Pelos critérios da OMS, o índice considerado limite de segurança é entre 10 e 20 ppm. "Em tais níveis de concentraçao", diz o estudo, "efeitos neurotóxicos já podem ser observados". O trabalho, no entanto, nao dá o número de pessoas que poderiam estar contaminadas no Estado.

Segundo os pesquisadores, os níveis de contaminaçao por mercúrio no cabelo dos pescadores e seus familiares torna-se mais "preocupante" devido ao alto consumo de pescados na regiao. Os níveis de contaminaçao chegam a ser superiores ao que foi observado em outros estudos no País em regioes fortemente impactadas pelos garimpos, exemplo das bacias dos rios Madeira e Tapajós.

Peixes - Na regiao de maior concentraçao de mercúrio nos peixes, diz o estudo, é necessário que as crianças e mulheres em idade reprodutiva consumam de preferência os peixes nao carnívoros e de menor porte, que possuem menores níveis de contaminaçao por mercúrio. O mesmo trabalho mostra que algumas iniciativas contribuiram para reduzir o impacto dos garimpos no Lago Duas Bocas, exemplo de um dique para impedir a entrada de águas utilizadas em garimpos.

Os pesquisadores concluíram que a contaminaçao em peixes predadores exibe teores que "excedem os limites definidos pelo Ministério da Saúde" para consumo regular. Mesmo em lagos nao impactados pelos garimpos, há peixes contaminados por mercúrio. Os pesquisadores nao descartaram que haja uma "deposiçao de mercúrio transportado das regioes de garimpo por via atmosférica".

Para realizar o estudo, foram reunidos pesquisadores de órgaos públicos e de universidades. Entre os órgaos que participaram do projeto estavam os institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de Pesquisa Energéticas (Ipen), de Energia Nuclear da Agricultura (Cena), ligado à Universidade de Sao Paulo (USP), de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Institut Français de Recherche en Coopération. Todo o trabalho foi coordenado pelo Núcleo de Pesquisa em Geoquímica e Geofísica da Litosfera (Nupegel), da USP.

Segundo o cientista Jean Remy Guimaraes, geoquímico do Instituto de Biofísica da UFRJ, que ajudou a elaborar o estudo, o mercúrio pode provocar a perda da capacidade intelectual, da habilidade e do equilíbrio, além de problemas sensoriais. O cientista disse que além dos garimpos, "qualquer atividade que acelere a erosao do solo", como a construçao de estradas e represas e desmatamento, pode provocar a contaminaçao por mercúrio, metal presente em solos de regioes tropicais.




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