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Montadoras voltam a contratar
08/08/2004 | 22:20
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   Depois de três anos seguidos de cortes, a indústria automobilística começou a mostrar que acredita no crescimento econômico sustentável. Nas últimas semanas, o setor retomou a contratação de funcionários e anuncia novos turnos de trabalho, em substituição às horas extras, expediente usado em períodos de recuperação sem criação de empregos. Em julho, as montadoras contrataram 1.298 trabalhadores. No ano, são 6 mil novas vagas, somando 96,8 mil empregados.

O setor encerrou 2003 com 90,8 mil funcionários, o mais baixo nível dos últimos 26 anos. Embora a quantidade de vagas recuperadas não pareça tão significativa diante do número de pessoas sem trabalho no país, são empregos qualificados, com salários normalmente superiores aos de mercado.

Além disso, a indústria automotiva tem efeito multiplicador. Cada vaga aberta na montadora se reflete em toda a cadeia produtiva, que vai do plantador do algodão usado nos bancos ao despachante ou corretor de seguros.

‘‘É como um círculo virtuoso, pois o setor automotivo puxa a siderurgia, a indústria de minérios, plásticos, entre outros’’, diz o economista da LCA Consultores e especialista na área Francisco Pessoa. No primeiro semestre, os fabricantes de autopeças também criaram outros 6 mil postos de trabalho, e empregam agora 177,6 mil pessoas.

É um alento, depois de um ano em que uma única montadora, a Volkswagen, reduziu seu quadro direto em quase 4 mil pessoas num programa de reestruturação iniciado no fim de 2003.

Motivo de comemoração para quem passou dois anos vivendo de 'bicos', como Francinilo Souza do Carmo, 35 anos. ‘‘Fico olhando as grades da fábrica e nem acredito que estou do lado de dentro’’, afirma o metalúrgico, recém-contratado pela Mercedes-Benz, de São Bernardo.

Em 2002, Carmo saiu da Volkswagen, onde trabalhou por 13 anos. Foi fazer serviços de hidráulica e obras civis com o pai. ‘‘Muitas vezes as pessoas não nos pagavam, e era complicado manter a mulher e o filho.’’

Ele já havia desistido de percorrer as fábricas do Grande ABC para entregar currículos pois gastava mais de R$ 6 em passagens de ônibus para vir da Zona Leste de São Paulo, onde mora, até o Grande ABC . ‘‘Num sábado à tarde, recebi carta convocando para a entrevista. Eram 1,5 mil pessoas para 127 vagas. Consegui só por Deus mesmo.’’

Farol – Responsável por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial, o setor automotivo é visto como um farol para a atividade econômica, mesmo que hoje já não seja um grande empregador. ‘‘Dificilmente a indústria como um todo vai bem quando a automobilística está mal’’, diz Pessoa.

Essa indústria já teve mais de 140 mil funcionários no fim dos anos 80, período em que o país abrigava sete montadoras, com produção de cerca de 1 milhão de veículos. Hoje são 18 marcas, com produção prevista de 2,1 milhões de unidades, um recorde histórico. ‘‘Com as novas tecnologias e os métodos modernos de produção, as fábricas nunca mais vão cobrir essas vagas’’, admite o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo.

O sindicalista ressalta, de outro lado, que o emprego na indústria de veículos ‘‘é sempre de qualidade’’ e, embora alguns comecem com valores mais baixos, é possível progredir porque a maioria das empresas tem política salarial. A média paga a um metalúrgico do Grande ABC é de R$ 1,7 mil.




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