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Ladroes montam firmas com cargas roubadas
Do Diário do Grande ABC
19/06/1999 | 16:44
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As "firmas de ladroes", como sao chamados os grupos que roubam cargas em Sao Paulo, têm setores independentes. Para evitar a identificaçao, os participantes de um setor nao conhecem os dos demais. Nas firmas o primeiro trabalho é feito pelo chamado mentor. É o responsável pelo planejamento do roubo. Recebe os detalhes do tipo de carga mais procurada na praça e encaminha o esquema para a segunda etapa: a da execuçao.

Sao ladroes recrutados que recebem a instruçao do que roubar e onde encontrar a carga. Com o roubo concretizado, a seqüência do planejamento é a entrega do caminhao e a liberaçao do motorista. Os ladroes já sabem onde devem deixar o veículo com a carga. Nessa etapa um outro grupo, geralmente de no máximo quatro pessoas, segue com o caminhao para um depósito. As instruçoes sao passadas geralmente por celular ou telefone comunitário. Com a carga no depósito, o responsável é quem vai tratar com o receptador.

Empresário - A polícia chama o receptador de empresário do crime. É ele quem faz a encomenda e poe a mercadoria roubada em lojas, armazéns, mercearias e até em magazines. O esquema mafioso, segundo o delegado Frederico Vesentini, da Delegacia de Furtos, Roubos e Desvios de Cargas, dificulta a identificaçao de todos os participantes da "firma de ladroes".

É tao perfeito o esquema que determinadas cargas sao roubadas pela manha e, no começo da noite, já passam a ser mandadas para municípios da Grande Sao Paulo ou outros Estados como Paraná, Santa Catarina, Rio, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O policial informou que a falta de diálogo entre as Polícias Militar, Federal e Rodoviária dificulta o combate ao roubo de cargas. Ele quer maior fiscalizaçao aos caminhoes nas estradas. "Os transportadores, na ânsia de ganhar, aceitam qualquer mercadoria sem discutir a procedência".

Estranho - Sobre o envolvimento dos motoristas no roubo ou desvio da carga, Vesentini dá como exemplo queixas apresentadas. "Ninguém vai à delegacia assim que o caminhao é levado pelos ladroes ou o motorista é libertado". Ele disse que o motorista telefona para a transportadora e é aconselhado a procurar a delegacia somente no dia seguinte. "É estranho porque deveriam orientar a ir à polícia em seguida, para que pudéssemos localizar o caminhao, prender os ladroes e recuperar a carga". Ele acredita que, agindo dessa maneira, as transportadoras fazem acertos por causa do seguro.

A falta de informaçoes nas notas fiscais dos lotes das mercadorias roubadas têm dificultado o trabalho da polícia para a identificaçao do receptador. Quando sabem de uma oferta de determinado produto eletrodoméstico ou eletroeletrônico, a preço bem abaixo do valor real em lojas da capital, os policiais da Delegacia de Furtos, Roubos e Desvio de Cargas têm comprado algumas peças na tentativa de identificar a procedência. O objetivo é saber da indústria o destino da mercadoria. A polícia suspeita que, com uma nota fiscal, os comerciantes "esquentam" as mercadorias roubadas e compradas dos receptadores.

"Nao temos tido a colaboraçao dos fabricantes porque a identificaçao na nota fiscal inexiste", diz Vesentini. "As fábricas garantem nao ter como informar para quem foi feita a venda e a entrega". As mercadorias roubadas sao vendidas por 40% do valor de mercado.




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