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PRI pode perder o poder no México
Do Diário do Grande ABC
26/06/2000 | 12:18
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Governados pelo mesmo partido há mais de sete décadas e sem conhecer a alternância pacífica do poder em sua história, os mexicanos encaram com dúvida e temor a disputa entre o oficialismo e a oposiçao conservadora.

Nas eleiçoes, que acontecem no próximo domingo, mais da metade dos eleitores - seis em cada 10, segundo as pesquisas mais confiáveis - votará pela mudança do partido no poder, mas a falta de um acordo entre as duas grandes forças da oposiçao dividiu estes votos entre esquerda e direita.

Ao mesmo tempo, o Partido Revolucionário Institucional (PRI, que está há mais tempo no poder no mundo) reunia suas fileiras, frente a um desafio inédito.

O candidato conservador, Vicente Fox, acumula quase 40% das preferências e se transformou na maior ameaça a Francisco Labastida, cujo partido foi fundado em 1929, pelos caudilhos que tomaram o poder ao fim da revoluçao camponesa de 1910.

Fox, empresário e ex-gerente da Coca-Cola, e Labastida, ex-Ministro do Interior de Ernesto Zedillo, chegam ao fim da campanha com um empate técnico, gerando o maior clima de incerteza política da história do país. Esta dúvida sobre o resultado da votaçao é uma novidade, que desperta cautela.

``Este país nao está acostumado à incerteza democrática de nao saber quem vai vencer. Antes, sabíamos, pois havia mecanismos para evitar uma derrota do PRI', disse o analista político Carlos Elizondo Mayer, do Centro de Pesquisa e Docência Econômica (CIDE).

Mais temores surgem quando pergunta-se o que acontecerá se o resultado final das eleiçoes apresentar uma margem de menos de cinco pontos de vantagem para o vencedor, seja ele Fox ou Labastida. ``Que tipo de protestos haverá e de que tamanho ninguém sabe', diz Mayer.

Com quase 60 milhoes de eleitores registrados no México, uma participaçao de cerca de 70% faria com que cada ponto percentual representasse 420 mil votos, disputados um a um em 113 mil urnas.

A média de indecisos é de 15% a 20%. ``É a primeira vez na história contemporânea que os cidadaos decidirao no dia da votaçao. Isso vai de encontro à forma tradicional de fazer política no México e provoca inquietaçao', continuou o analista.

A maior novidade seria uma vitória da oposiçao. ``Seria a primeira vez que aconteceria uma troca pacífica na história do México, pois as mudanças sempre aconteceram por meio de guerra civil ou golpe de Estado', disse o analista José Antonio Crespo, autor de ``Os Riscos da Transiçao'.

Ainda que as fraudes tradicionais pareçam ter sido controladas pelas novas autoridades eleitorais, observadores ``detectaram irregularidades de compra e coaçao (oficialista) de votos, que podem alterar o resultado final', continuou Crespo.

O analista citou a última pesquisa de opiniao do jornal Reforma, segundo a qual ``mais de 60% dos entrevistados acham que haverá um conflito eleitoral se o resultado final for apertado'.

Doze por cento das pessoas ouvidas acreditam que, se nao votarem no PRI, sofrerao algum tipo de represália. Destas, mais da metade votará no partido governante.

Em um cenário de protestos da oposiçao, ninguém acredita que se repetirá a incapacidade de defesa contra irregularidades que o centro-esquerdista Cuauhtémoc Cárdenas enfrentou em 1988. Este ano, ele aparece em terceiro lugar, com menos de 20% das intençoes de voto, segundo as pesquisas.




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