Economia Titulo Crise
PIB nacional cai 3,8% em 2015, a maior recessão em 25 anos
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
04/03/2016 | 07:25
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Celso Luiz/DGABC


O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 3,8% em 2015, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi o maior percentual de queda desde 1990, quando a economia nacional retraiu 4,3%. O volume total de riquezas geradas no País no ano passado atingiu R$ 5,4 trilhões.

A queda no PIB já era esperada. Porém, no primeiro semestre, a equipe econômica do governo Dilma Rousseff (PT) era bem menos pessimista: projetava retração de 0,9%. Em junho, o mercado financeiro apostava em recuo de 1,49%.

Nos últimos três meses de 2015, os dados foram ainda piores: -5,9%. Foi o sétimo trimestre consecutivo de encolhimento. A recessão estava instalada. Na comparação com o período imediatamente anterior, foi a quarta queda seguida.

O economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que a retração é provocada pelo descontrole do governo federal em relação às contas públicas e à inflação nos últimos anos (que chegou a 10,71% no acumulado de 12 meses), o que exigiu a implantação de medidas que, como efeito colateral, coibem o crescimento do País. Para conter a escalada de preços, o BC (Banco Central) lançou mão da elevação na taxa básica de juros (Selic), que está em 14,25% ao ano. “Os juros altos inibem a atividade produtiva, pois reduzem o crédito e, consequentemente, o consumo”, explica. Outro efeito é o aumento na rentabilidade de aplicações financeiras. Isso faz com que os empresários tenham mais ganhos com fundos de investimento do que com linha de produção.

Em relação ao controle nos gastos públicos, a medida adotada pelo governo foi o chamado ajuste fiscal, que acarretou na redução de subsídios e aumento de impostos e tarifas administradas, como, por exemplo, os combustíveis e a conta de luz.

Para o professor Agostinho Pascalicchio, do curso de Ciências Econômicas da Universidade Mackenzie, o indicador mais alarmante é a queda de 14,1% no total de investimentos feitos em 2015. “Isso mostra que haverá dificuldade para retomada da atividade econômica. Isso porque, se você investe hoje, há um prazo para consolidação. Perdemos dinamismo”, comenta. Para ele, esse dado espelha o pessimismo dos empresários em relação ao Brasil.

Reflexo disso é mostrado no último Relatório Focus, que mostra que a previsão do mercado financeiro é de nova queda no PIB para este ano, de 3,45%. Para 2017, a projeção é de ligeira elevação, de apenas 0,5%. O professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista chama atenção para o fato de que, caso a perspectiva de retração se consolide em 2016, será a segunda vez na história que o País registra duas reduções consecutivas no PIB. Isso aconteceu apenas no biênio 1929/1930, quando o mundo sofreu as consequências da chamada Grande Depressão, quando houve a quebra na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos.

SETORES - O segmento que registrou maior diminuição na geração de riquezas foi a indústria, que sofreu perdas de 6,2% (chegando a R$ 1,149 trilhão). O desempenho ruim afeta diretamente o Grande ABC, cuja economia é fortemente ligada ao setor produtivo. “Para se ter ideia, o PIB industrial da região teve retração média de 7% ao ano entre 2010 e 2013 (último dado disponível por município)”, destaca Maskio.

Já o setor de serviços movimentou R$ 3,642 trilhões – 2,7% menos do que em 2014. O consumo familiar atingiu R$ 3,741 trilhões, com queda de 4% no ano, enquanto os gastos do governo, que somaram R$ 1,192 trilhão, foram 1% inferiores do que no ano anterior. A agropecuária foi o único ramo com alta, de 1,8%, para R$ 263 bilhões.

Política colocou o País em colapso, afirma economista

O economista Ricardo Balistiero considera que a crise política no Brasil colocou a economia em colapso. “O governo não tem capacidade para elaborar e aprovar as reformas que o Brasil precisa.” Ele cita como exemplos as mudanças na Previdência e a aprovação da nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que são medidas apontadas pelo Planalto como essenciais para ajustar as contas públicas mas que, por falta de apoio no Congresso, terão dificuldades para serem aprovadas.

Balistiero acrescenta que o mercado financeiro não confia na presidente Dilma Rousseff (PT). “A cada notícia de que o impeachment ganha força, a bolsa sobe e o dólar cai”, exemplifica. No pregão de ontem a Bovespa valorizou 5%, maior alta diária desde 2009, e o câmbio recuou 2,2%, a R$ 3,80, menor valor em três meses. 




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