A estratégia dos supermercados do Grande ABC para limpar os estoques de ovos de Páscoa, parcelando-os em até dez vezes, expõe de forma clara e inequívoca a falência da econômica brasileira. Comprometer-se até o Natal para adquirir item tão comezinho não é sinal de saúde financeira. A novidade, todavia, é a única maneira de manter a tradição pascal para boa parcela de consumidores ultraendividados. Ao que parece, a macroeconomia se degenerou a tal ponto que dá aos comerciantes a liberdade de recorrerem a estratégias singulares para não sucumbirem às incertezas.

Diante de tal promoção, uma pergunta é inevitável. Se o consumidor não tem dinheiro para comprar à vista nem um simples ovo de Páscoa, o que fará ele diante de produtos de maior valor? Um computador. Ou um carro. Natural e compreensível que refaça os planos, deixando o desembolso para momento mais apropriado. O exemplo ajuda a compreender a intensidade da crise enfrentada pela indústria automotiva, que, em boa medida, sustenta a economia do Grande ABC.

O terrível é que nenhuma luz aparece no fim do túnel. As autoridades financeiras parecem estar perdidas, sem saber exatamente por onde começar a resolver os problemas. É difícil, aliás, esperar da equipe econômica qualquer programa de incentivo ao consumo. É que os críticos do governo Dilma Rousseff (PT) atribuem exatamente a projetos similares desenvolvidos no primeiro mandato da petista parcela significativa da crise que o País atravessa desde o ano passado.

Enquanto Brasília segue naquela inércia conhecida há algum tempo, gastando todas as suas forças para tentar debelar a crise política que envolve figurões da República, o cidadão é obrigado a parcelar até doces. A maior parte das crianças e adultos que, em 27 de março, saborearem os ovos de Páscoa não terá ideia do quão amargo é o chocolate. Alguns pais, avós, tios, namorados e amigos ficarão pagando pelos mimos até dezembro, quando o Papai Noel já estará preparado para entregar os presentes. Será, então, a hora de fazer mais dívidas!