Economia Titulo Balanço
Operações do BNDES na região caem 12,7%

Volume de financiamentos no Grande ABC
chegou a R$ 541,6 mi, 52% a menos que em 2014

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
24/02/2016 | 07:21
Compartilhar notícia
Divulgação


O número de operações de crédito concedidas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a empresas do Grande ABC teve queda de 12,7% no ano passado, na comparação com 2014. O total de contratos aprovados diminuiu de 9.063 para 7.914. Entre as explicações para a redução nos empréstimos estão o desaquecimento da atividade econômica no País e o ajuste fiscal realizado pelo governo federal. O levantamento foi feito pela diretoria regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em Diadema a pedido do Diário.

Considerando os valores financiados pelo banco estatal na região, os dados são ainda piores: em um ano, o montante despencou 52,1%, de R$ 1,132 bilhão para R$ 541,6 milhões. Em números absolutos, foram R$ 590,7 milhões a menos em 2015. As grandes empresas foram as que tiveram maior queda nos financiamentos: 71%. Os desembolsos para micro, pequenas e médias companhias recuaram 41%.

Na avaliação do gerente do Ciesp Diadema, Dario Sanchez, responsável pelo posto de informações do BNDES no local, o recuo nos financiamentos está ligado à queda na demanda por crédito. “A intenção de investimento está reduzida em razão do momento econômico atual. Não há perspectiva de novos negócios e oportunidades”, explica.

O economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, acrescenta que o ajuste nas contas da União também tem impacto sobre a redução na oferta de crédito, já que a intenção do governo é diminuir o deficit nas contas públicas por meio da diminuição dos gastos e aumento na arrecadação. “O BNDES estava emprestando dinheiro por meio do aumento da dívida pública, que são as tais pedaladas fiscais. Mas isso teve de ser interrompido para que as contas de 2015 não sejam reprovadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e porque a capacidade de endividamento do governo está limitada.”

Balistiero faz críticas ao modelo atual de funcionamento do banco estatal, que financia empresas grandes e já estabelecidas no mercado. “O BNDES foi muito criticado nos últimos anos por liberar muito crédito aos chamados campeões nacionais, que são as grandes corporações, na tentativa de fazê-las se tornar grandes players internacionais. O papel do BNDES é o de fomentar o desenvolvimento e o crescimento, por isso deveria atuar mais com os pequenos e médios agentes. Os gigantes podem recorrer a outros mecanismos, como recursos estrangeiros.”

Na divisão por setores, a área de infraestrutura foi a que teve maior redução nos desembolsos no ano passado: 72%. Nessa categoria entram as obras públicas, como as do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que estão paralisadas ou em ritmo lento. O segmento de comércio e serviços teve queda de 63%, enquanto a indústria diminuiu em 33% o montante recebido por meio de financiamentos.

Apesar de a indústria ter registrado menor percentual de queda em relação às demais áreas, Sanchez considera a situação grave, já que o setor produtivo é o maior tomador de crédito na região: em 2015, foi responsável por 39,4% do total das operações do BNDES na região. “Nossa região é altamente dependente da indústria. A falta de investimento nesse setor é preocupante porque, sem os aportes destinados a melhorias, não haverá recuperação. Forma-se um círculo vicioso”, avalia o gerente do Ciesp Diadema.

Sem perspectiva de melhoras no cenário econômico – principalmente por conta das incertezas na política, Sanchez também não enxerga perspectivas positivas para 2016. “Não há nenhuma sinalização de alteração no quadro atual”, lamenta. “Não há o que fazer para reaquecer a demanda. Enquanto o governo não apontar que a questão fiscal será solucionada, nada mudará”, complementa Balistiero.


Linha Finame registra redução de 61,9%

O Finame, que representa 45,1% de todo o montante financiado pelo BNDES no Grande ABC em 2015, teve queda de 61,9% nos desembolsos desde o ano anterior. Em 2014, foram liberados R$ 640,7 milhões por meio dessa linha, valor que caiu para R$ 244,2 milhões em 2015 – R$ 396,4 milhões a menos.

Esse instrumento é o principal fomentador da atividade industrial. Por meio desse mecanismo, os empresários podem financiar máquinas e equipamentos, além de caminhões. As taxas de juros variam conforme o tipo de operação e o porte do cliente. O Finame é utilizado para aquisição de itens com alto valor agregado. No caso da linha para comercialização de bens de capital, os produtos financiados têm de ter o preço acima de R$ 20 milhões.

Além da queda na atividade econômica e do ajuste fiscal, outro motivo que explica o recuo na concessão de crédito é o fato de as empresas terem de estar em dia com impostos e obrigações sociais.

Já o Cartão BNDES, destinado para micro, pequenas e médias empresas e que consiste em crédito pré-aprovado de até R$ 1 milhão, registrou estabilidade no volume de operações ante 2014. No ano passado, essa ferramenta foi responsável por R$ 190,7 milhões em financiamentos – 35,2% do total.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;