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Aquarelas de Iberê Camargo vao a leilao no Rio
Do Diário do Grande ABC
21/06/1999 | 14:56
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Vinte e sete aquarelas de Iberê Camargo, feitas como cenário e figurino para o balé "Rudá", de Heitor Villa-Lobos, vao estar no pregao, no sábado, no Leilao da Hípica no Rio, organizado pela antiquária Dagmar Saboya. O lote, cujo lance mínimo será R$ 100 mil, pode ser vendido também separadamente, a R$ 3 mil cada quadro, caso nao haja interessados na coleçao inteira. Segundo Dagmar Saboya, as aquarelas pertencem a um colecionador que exigiu anonimato e as havia comprado de um crítico de arte.

Os quadros nao sao datados e no verso de alguns deles há indicaçoes do artista sobre a execuçao do trabalho. O interessante é que o balé "Rudá", concebido por Villa-Lobos para durar 38 minutos, nunca chegou a ser montado ou, ao menos, nao existe nenhum registro de sua encenaçao no Brasil. Os especialistas no nosso mais famoso compositor erudito, como Maria Augusta Machado, funcionária do museu que leva o nome dele desconhecem uma encomenda desse teor feita por Villa-Lobos a Iberê.

Ela acredita que os guaches foram concebidos e realizados em fins dos anos 50 ou início dos anos 60, quando o compositor já estava morto ou muito doente.

A música estava escrita desde 1951, mas só foi executada pela primeira vez em 1954, pela orquestra da Radiodifusao Francesa, o Teatro Champs Elysées, em Paris. Na época, Iberê Camargo ainda nao havia feito nome como pintor e era professor do Instituto Municipal de Belas Artes, que deu origem à Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Por isso, existe a hipótese de o artista ter criado os cenários e figurinos com vistas a uma possível encenaçao do balé que ainda nao estava acertada, mais como um exercício criativo.

"Rudá" mostra a influência que o folclore brasileiro exerceu sobre Villa-Lobos. O nome é o do deus do amor na mitologia marajoara e vários outros símbolos e personagens da cultura americana anterior aos descobrimentos estao presentes na obra. Além de desenhar os cenários pontuados por pirâmides e tótens espalhados diante de uma rotunda negra, Iberê misturou motivos de índios brasileiros, incas e maias nos figurinos. No entanto, nao se tem notícia de nenhuma iniciativa para levar a cabo seja a montagem do balé, seja a execuçao dos figurinos.

A própria existência das aquarelas era desconhecida, embora se saiba que Villa-Lobos era amigo de vários pintores, entre eles Di Cavalcanti, e em diversas ocasioes lhes encomendou cenários e figurinos para balés. Suas primeiras composiçoes com a marca do modernismo e da nacionalidade, sao balés: "Danças Características Africanas", de 1916; "O Uirapuru", de 1917, e "O Amazonas", de1919.

Leilao - As 27 aquarelas de Iberê Camargo formam o último dos 900 lotes a serem leiloados por Evandro Carneiro, de amanha (22) a sexta-feira, às 21 horas, e no sábado (quando elas vao a pregao), a partir das 15 horas. Além delas, há vários jogos de jantar da Companhia das Indias (um deles, com lance mínimo de R$ 50 mil, pertenceu ao milionário português Antenor Patiño), um Manabu Mabe (lance mínimo de R$ 52 mil) e uma Djanira (R$ 16 mil), além de santos barrocos (uma Nossa Senhora da Conceiçao oca, portuguesa, do século 18, a R$ 45 mil), prataria e cristais.

Segundo Dagmar Saboya, que realiza o segundo leilao este ano (o primeiro foi em Sao Paulo, há um mês), a desvalorizaçao do real só afetou a venda dos objetos de pouco valor. "Os mais preciosos e raros continuam a sair bem e mantiveram o preço", disse ela. "Colecionar arte continua sendo bom investimento".




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