Alain Martin, helenista e papirólogo da Univerisade Livre de Bruxelas (Bélgica) e Oliver Primavesi, filólogo helenista da Universidade Goethe de Frankfurt (Alemanha), acabam de publicar o livro ``O Empédocles de Estrasburgo', no qual reconstituem seu trabalho e o comentam, situando-o no contexto histórico, cultural e filosófico.

O papiro contém 74 versículos do grande pré-socrático. Trata-se do que resta de uma cópia completa dos livros I e II da ``Física', datada do século I d.C. É um texto didático no qual Empédocles se dirige a um discípulo.

``Esta é uma descoberta de grande importância e provavelmente, o único depoimento de transmissao direta de sua obra, da qual até agora só tínhamos testemunhos', explicou Martin, que trabalhou na reconstituiçao do papiro a partir dos 53 fragmentos encontrados.

A filosofia de Empédocles, que segundo a lenda se suicidou atirando-se no vulcao Etna, era conhecida até agora através de outros autores que o citaram.

``Conhecíamos suas idéias e seus textos somente através da censura destes outros autores. Neste caso, a censura foi resultado da sorte e do tempo e o que descobrimos é extremamente interessante', disse Primavesti.

``Até o momento, dois aspectos de seu pensamento estiveram sempre separados. Por um lado, os quatro elementos (terra, ar, água e fogo), a física propriamente dita. Por outro, as almas, o amor e o ódio. Descobrimos neste texto uma interpretaçao dos dois aspectos, uma visao íntegra de seu pensamento', continuou.

``Empédocles nos diz que é preciso recorrer tanto ao pensamento quanto aos sentidos para perceber o mundo, que o que vemos como vivo é uma conjunto dos quatro elementos articulados pelo amor e pelo ódio', definiu Martin.

Alain Martin descobriu este documento em 1990 ``por acaso' no depósito de papiros da Biblioteca Nacional de Estrasburgo, que tem 5200, dos quais 1800 sao gregos, na maioria ainda nao estudados.

Estudando um segmento do texto e comparando-o a um banco de dados grego, chegou-se à conclusao de que se tratava de um texto de Empédocles. Depois disso, ao lado do colega, reconstituiu o papiro a partir dos fragmentos, que estavam conservados de forma desordenada debaixo de uma placa de vidro.

Foi Otto Rubensohn, um francês de Estrasburgo, quem comprou o papiro de um antiquário do Cairo, em 1904, por conta de uma instituiçao alema criada no século XIX e especializada neste tipo de documentos. Depois de uma curta estada em Berlim, o papiro voltou a Estrasburgo em 1905.