Cultura & Lazer Titulo
Chega ao Brasil novo CD do Rage Against The Machine
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao
03/12/1999 | 17:38
Compartilhar notícia


O Rage Against The Machine é um caso único na história do pop e rock mundial. Poucas bandas sao ou foram tao politizadas quanto este quarteto californiano - The Clash, Gang of Four, Manic Street Preachers, todas perdem para o marxismo explícito do Rage. Isso é ainda mais peculiar pelo fato de se tratar de uma banda dos Estados Unidos, onde o termo "comunista" ainda é usado como ofensa. Também nao há banda que atue tao diretamente em favor de causas como os zapatistas, a libertaçao de presos políticos dos EUA (o negro muçulmano Mumia Abu-Jamal, o índio Leonard Peltier), o fim da pena de morte, o fim do racismo etc.

Apesar dessa praxis radical, e numa aparente contradiçao, o Rage habita o ventre do Grande Sata e ali vive em simbiose com a tal "máquina" que seu próprio nome recomenda odiar: é contratado da gigante Sony, é sucesso de vendas, e tem até um quadradíssimo Grammy (pela cançao Tire Me, de 1997).

Agora, chega às lojas brasileiras o terceiro álbum do grupo, The Battle of Los Angeles - note bem, é o terceiro disco que o Rage lança desde 1992, um cronograma que, de tao arrastado, condenaria a maioria das bandas à morte por inaniçao.

O primeiro single a explodir nas rádios dos EUA é Guerrilla Radio, cuja letra, cheia de imagens confusas ("as eleiçoes se fecham como um caixao sobre a verdade devorada"), vomita ácido puro sobre Al Gore, vice de Bill Clinton e provável próximo candidato democrata à presidência dos EUA, e também dá um pau na imprensa, aparentemente por esta silenciar sobre Mumia (que está no corredor da morte) e seu julgamento supostamente tendencioso.

As outras cançoes trazem o mesmo tipo de retórica caudalosa: Testify fala da Guerra do Golfo e sua cobertura pela mídia; Calm Like a Bomb avisa que a miséria material e moral está em toda parte ("Escolha um ponto no planeta/O que se vê é o mesmo/Há um banco, uma igreja, um mito e um enterro/Um shopping, um agiota e uma criança natimorta"); Sleep Now in the Fire ataca o colonialismo espanhol, citando textualmente as caravelas Santa Maria, Pinta e Nina; Maria é nada menos do que um épico, narrando a tragédia de uma imigrante mexicana escravizada no sul dos EUA; e por aí vai. O fogo é cuspido sem parar, criando um clima tenso, estressante.

Este combate lírico ao neoliberalismo chega embalado por uma sonoridade que nao sofreu qualquer revoluçao desde o disco de estréia do Rage (o de Freedom e Killing in the Name). The Battle of Los Angeles soa como aquele álbum e como Evil Empire (1996), com um ou outro detalhe diferente.

A fórmula básica depende de duas pessoas: o espetacular Tom Morello tocando a guitarra como se fosse um baixo, e Zack De La Rocha esganiçando e destruindo sua garganta. Com a ajuda de Brad Wilk (bateria) e Y.tim.K (baixo), eles esfregam Led Zeppelin, funk e hip-hop numa lixa até arrancar a pele e brotar sangue. É a melhor descriçao do som do Rage Against The Machine: áspero.

Os destaques do disco sao Mic Check, Ashes in the Fall e Born of a Broken Man, todas elas com alguns maneirismos de hip-hop chique que fazem lembrar Beastie Boys - mas, na verdade, gostar ou nao do Rage é uma questao política, e nao musical. Fidel Castro e Hugo Chávez aprovariam.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;