Economia Titulo
Finanças pessoais: tem conservador na bolsa de valores
Maria Teresa Carneiro
e Juliana Rosa
Do InvestShop.com
09/09/2000 | 17:01
Compartilhar notícia


Se no dia-a-dia encontramos pessoas com as mais diferentes personalidades, no mercado de açoes nao é diferente. Mesmo dentro do universo da chamada renda variável (aplicaçoes de mais risco) é possível achar investidores com os mais diversos perfis. Ao contrário do que se pode imaginar, nao existe no mercado apenas aquele investidor destemido e "louco pelo risco". Muito pelo contrário. Na verdade, alguns analistas chegam a dizer que existem investidores tao conservadores na bolsa que, para estes, açao é quase uma "renda fixa". Sao pessoas que pensam no longo prazo e que nao se incomodam de esperar até anos, se for preciso, para nao ter de realizar um prejuízo. Mas nao há só os dois extremos: de acordo com analistas ouvidos pelo Investshop.com, há basicamente quatro tipos de investidor na bolsa de valores hoje: o conservador, o misto, o especulador e o que caiu de "pára-quedas".

Para ter sucesso nesse mercado cheio de emoçoes, os analistas concordam que o investidor tem que, antes de tudo, se conhecer. E depois, começar a aplicar. Todos dizem que as perspectivas para a bolsa sao boas, pois há reaquecimento da economia e a tendência dos juros é de queda. O analista do Chase Manhattan, Rodolfo de Angele, diz que, dentro desse cenário, o investidor terá de arriscar mais, para garantir melhor rentabilidade. No entanto, é preciso saber qual seu objetivo, seu conhecimento do mercado de açoes e até mesmo sua personalidade para definir de que forma é melhor atuar.

O investidor conservador é o mais pé no chao. Acha que um pouco de cautela nao faz mal a ninguém. É aquele que monta uma carteira de açoes como patrimônio e só vende quando quer realizar algum sonho, como comprar um apartamento, por exemplo. Ele investe em açoes tradicionais, de primeira linha ou segunda linha nobre - como Petrobrás, Vale do Rio Doce e Itausa -, carrega os papéis por um bom período e se baseia em análises fundamentalistas, que levam em conta as perspectivas da empresa. Tem "amor" aos papéis, segundo alguns analistas.

Além disso, boa parte dos investidores com esse perfil gosta de olhar os dividendos que as empresas pagam. Geralmente, sao pessoas que nao têm muito tempo para acompanhar diariamente o mercado, nem conhecimento profundo das operaçoes. Alguns analistas acham que esse tipo de investidor aposta pouco de suas economias na bolsa, geralmente até 20% do porta-fólio. De acordo com o gerente de renda variável da Sul América, Paulo Ramos, o restante do dinheiro, esse investidor, geralmente, aplica em renda fixa.

Já o especulador ou jogador é movido pela ganância e pela busca de fortes emoçoes. Nao tem o menor medo de arriscar e, no fundo, gosta de sentir um friozinho na barriga ao acompanhar as oscilaçoes da bolsa de valores. É preciso ter estômago e sangue frio para adotar esse tipo de perfil. "É aquele que quer ganhar muito em pouco tempo", explica o economista e professor Antônio Gonçalves. Geralmente, faz muitas operaçoes de day trade (compra e venda no mesmo dia) e outras extremamente arriscadas, com derivativos, entre elas, opçoes e termo. "Com a globalizaçao, ficou ainda mais perigoso atuar dessa forma. Se as bolsas norte-americanas caem forte, a daqui é logo afetada", diz o administrador de recursos Manuel Caldeira.

Muitas vezes, o tipo especulador compra um papel só por causa do preço baixo e, ao sinal de uma alta interessante, entra vendendo. Por isso, tem de ficar com o olho grudado na tela do computador, acompanhando o mercado. Geralmente, esse tipo de investidor tem bom conhecimento do assunto. "O especulador nao compra açoes e vai para a praia", brinca Gonçalves. De acordo com os analistas, ele aplica mais de 50% da renda em açoes.

Existe ainda o tipo misto, que apresenta as duas características. Gosta das açoes tradicionais do investidor conservador, mas também nao descarta alguns papéis mais incertos, mas promissores, ou seja, algumas açoes que têm boas perspectivas, mas ainda sao um pouco arriscadas. "Esse tipo é mais girador de carteira, ou seja, compra e vende com mais freqüência do que o tipo conservador. Tem os papéis tradicionais, mas também tem os mais arriscados e qualquer valorizaçao de 10% a 15% já o faz vender as açoes", diz o administrador de recursos, Manuel Caldeira.  Alguns chegam a utilizar opçoes para fazer hedge, uma espécie de seguro da carteira. De acordo com alguns analistas, pode investir entre 20% e 50% de sua carteira em açoes. Baseia suas escolhas em análises fundamentalistas e gráficos. Ramos, da Sul América, diz que normalmente o restante de suas aplicaçoes é depositado, meio a meio, em prefixados e fundos DI. 

Já o "pára-quedas" é o tipo que, na maioria das vezes, nao tem sucesso na bolsa. Ele nao tem o menor conhecimento sobre o assunto, mas compra uma açao porque ouviu dizer que é boa. Quando perde, geralmente, o amigo que havia indicado, vira ex-amigo. Muitas vezes, entra quando o papel está em alta, valorizado. E vende na baixa. Nao há pior performance dentro da bolsa do que essa. De acordo com alguns analistas, há investidores dentro desse perfil que podem dar sorte. "Geralmente nao investem em bolsa, mas, às vezes, podem vir com boas informaçoes sobre uma empresa e acertam", explica Arnaldo Puccinelli, gerente de bolsa da corretora Bittencourt, de Sao Paulo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;