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AACD está mais próxima do Grande ABC
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
27/09/2010 | 07:49
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Tiago Silva/DGABC


A vinda da unidade da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) para o Grande ABC pode representar o fim de um martírio diário vivido por milhares de pacientes da região que dependem da instituição para tratar alguma deficiência física. Atualmente, o deslocamento para a realização do tratamento em São Paulo simboliza um sacrifício de mães que abrem mão de suas vidas e profissões para dedicarem-se integralmente ao bem-estar do filho.

O Diário acompanhou as atividades desenvolvidas na sede instituição durante um dia, no Ibirapuera, em São Paulo, bem como a rotina de pacientes e familiares que buscam reabilitações físicas e psicológicas diariamente.

Dos 20.907 atendimentos de terapia realizados através do SUS (Sistema Único de Saúde) de 2003 a junho de 2010, 1.288 são de pacientes do Grande ABC, o que significa 6,2% do total.

Essa demanda, embora ainda menor do que de outras regiões que pleiteiam a construção da unidade, tende a aumentar nos dias atuais, entre outros motivos, devido aos altos índices de acidentes de trânsito que mutilam e causam graves traumas em centenas de pessoas diariamente - especialmente nos grandes centros urbanos. Cerca de 8 a 10% dos pacientes atendidos nas unidades de todo o Estado são provenientes do Grande ABC.

Segundo o diretor-voluntário, Carlos Nascimento, uma das formas das empresas e da sociedade regional realizarem suas contribuições é através do Fundo Pró Infância da AACD, criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O fundo de financiamento permite que pessoas físicas e jurídicas façam doações através de desconto em imposto de renda - de 6% e 1%, respectivamente. "Temos todo o interesse de ter as empresas do Grande ABC mais próximas da instituição. A solução está na mão de vocês. Há um estudo, mas nada concreto. Nós temos capacidade de fazer o investimento na unidade e equipá-la tecnologicamente. Porém, dependemos do apoio da sociedade para manter o funcionamento. Não podemos ser vistos como Papai Noel, e sim como indutores de um trabalho social", explicou.

Para atender, em média, os 5.840 pacientes diariamente em todas as unidades do Brasil, a entidade conta com o trabalho de 2.077 funcionários e 1.500 voluntários que dedicam parte de seu tempo apoiando profissionais da instituição em benefício dos pacientes. Alguns voluntários, inclusive, doam seu tempo à instituição há 40 anos. "Temos lista de espera para os voluntários. É um trabalho gratificante e só traz bons retornos", diz a gerente de voluntariado, Magda de Jesus.

A maioria dos problemas dos pacientes que procuram tratamento na AACD é de paralisia cerebral, que corresponde a 40,8%. Essa deficiência é causada por um dano no cérebro antes ou depois do nascimento da criança. Em segundo, estão as lesões encefálicas, com 11,3%, originadas por traumatismo craniano, tumor ou acidente vascular. Em terceiro vêm as lesões medulares, que chegam a 10,1% e correspondem aos casos de paraplegia e tetraplegia, geralmente provocados por acidentes de trânsito. As crianças representam 70% da demanda, embora adolescentes, adultos e idosos também recorram à entidade.

Entidade visa criar meios próprios de subsistência
O orçamento da associação é segmentado. A renda principal da AACD ainda é obtida através do Teleton, maratona televisiva de 24 horas conduzida por artistas que convocam a população e empresas a doarem recursos. A doação voluntária possibilita a criação de novas unidades pelo Brasil. No ano passado, o montante chegou a R$ 19 milhões e viabilizou a construção da unidade em Poços de Caldas (MG), que deve ser inaugurada até o fim do ano. O programa é transmitido anualmente desde 1998.

Hoje, uma das metas da diretoria da AACD é alcançar meios próprios de subsistência. A aposta chama-se Hospital Abreu Sodré, construído em 1993 junto à sede da entidade. "Nosso objetivo é tornar a instituição auto-sustentável", disse Nascimento.

No ano passado, até agosto, a receita adquirida através dos atendimentos chegou a R$ 46 milhões. Neste ano, a renda alcançou R$ 51 milhões no mesmo período.

O hospital é especializado em ortopedia e reumatologia e atualmente é considerado um centro de excelência em cirurgias ortopédicas da Capital.

As outras fontes de receita da AACD são as oficinas ortopédicas, que fabricam até 60 mil próteses por ano, os bazares que comercializam produtos da entidade, as parcerias e doações de pessoas físicas e jurídicas.

Os pacientes que podem pagar pelo tratamento acabam custeando as despesas de quem não pode contribuir com o atendimento. É o que o diretor chama de "Operação Robin Hood". Hoje, a fila de espera para conseguir atendimento em unidades da entidade passa de 32 mil pessoas em todo o País.

Origem - A AACD, que completou 60 anos no mês passado, foi criada em 1950 pelo Dr. Renato da Costa Bomfim, com o objetivo de cuidar de crianças com poliomielite, popularmente chamada de paralisia infantil. Nas décadas seguintes, após a erradicação da doença, outros problemas de saúde pública trouxeram novos desafios à AACD, como a alta de acidentes de carro e moto.

Com o passar das décadas, a colaboração dos brasileiros e de empresas impulsionou o crescimento da instituição, que atualmente atua em seis estados com nove unidades.

Em São Paulo funcionam a sede, uma unidade na Mooca, outra em Osasco e uma em São José do Rio Preto, no Interior. As demais atuam em Recife (PE), Uberlândia (MG), Porto Alegre (RS), Nova Iguaçu (RJ) e Joinville (SC). Para o início de 2011 estão previstas mais duas inaugurações nos bairros Campo Limpo e Santana, na Capital.

Possibilidade de unidade na região anima mães e filhos
A condição de vida de Caroline de Paula Iura, 5 anos, de São Caetano, ilustra uma realidade desconhecida por muitos. Vítima de paralisia cerebral, Caroline nasceu prematura de cinco meses, pesando 600 gramas. Após três meses internada, ela passou por cinco cirurgias. Hoje, a paciente frequenta a instituição duas vezes por semana e luta para ter os movimentos do lado direito do corpo. Fisioterapia, hidroterapia e terapia ocupacional são algumas das atividades que acompanham a rotina de Carol há três anos.

Para a mãe, Elaine de Paula Iura, 28, a vinda de uma unidade da AACD para a região significa uma simplificação de esforços. "Apesar de vir de carro, seria ótimo um local mais próximo. Com o trânsito, chego a demorar uma hora e meia para voltar."

A realidade desta mãe contrasta com a dificuldade enfrentada por Danila Amorim, 31, moradora do Jardim Zaíra, em Mauá. Seu filho Felipe Amorim, 9, que nasceu com má formação congênita, frequenta as aulas de capoeira e natação semanalmente. "Pego três ônibus e demoro três horas para chegar até aqui. Faço isso desde que ele nasceu e a dificuldade é extrema."

Ativo e falante, Felipe, que não tem parte das duas pernas, transmite alegria que transcende sua limitação. "Meu sonho é poder jogar futebol", revela.

A repercussão da possível vinda da unidade para o Grande ABC também animou Albertina do Nascimento, 51, mãe de Henrique, 11, vítima de erro médico. A família mora no bairro Esperança, em Mauá. "Seria maravilhoso porque abrangeria toda a região e a Baixada Santista. Hoje, pego trem, ônibus e metrô e demoro três horas para chegar ao Ibirapuera."

As complicações durante o parto causaram paralisia cerebral no garoto, que hoje faz tratamento intenso para ganhar os movimentos da mão direita. Segundo a mãe, a terapia na entidade feita desde os 40 dias de vida foi fundamental para a evolução da criança. "Ele deu os primeiros passos durante as sessões de terapia ocupacional. Foi uma emoção muito grande. Sou suspeita para falar da AACD. É o nosso mundo há 11 anos. Costumo dizer que lá é o cantinho do céu aqui na Terra."

A rotina de Albertina foi transformada a partir do nascimento de Henrique. Como esteticista, ela trabalhava em salões de beleza e sustentava outros dois filhos. "Larguei tudo há 11 anos. Fico 24 horas com ele. Parei de viver. Minha vida é ele."

Para ocupar as mães que passam dias inteiros na instituição, foi criado há quatro anos o Projeto Borboleta. Além de receber auxílio de psicólogos, elas desenvolvem atividades artesanais que podem ser comercializadas dentro e fora da entidade. "É uma garantia de renda", explica a coordenadora do projeto, Regina Pereira.




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