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Negros têm salários 43,8% menores
Michele Loureiro
Do Diário do Grande ABC
20/11/2009 | 07:00
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O Dia da Consciência Negra traz à tona reflexões importantes, como a participação dos negros no mercado de trabalho brasileiro. Dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) e da Fundação Seade apontam para realidade nada positiva: o salário médio dos negros é 43,8% menor do que a remuneração dos brancos.

A pesquisa, que consolidou dados do período que compreende os anos de 2004 a 2008, mostra que o negro recebe, em média, R$ 4,62 por hora, enquanto os brancos ganham R$ 8,21.

"Além do fato de as jornadas de trabalho serem normalmente mais extensas, os negros encontram-se em maior proporção em ocupações mais frágeis, seja pela forma de contratação, seja pela inserção em postos de baixa qualificação. Estas são as razões mais evidentes para as diferenças de rendimentos". explica Patrícia Lino Costa, economista do Dieese.

Embora no período analisado tenha sido verificado aumento para os negros (6,1%) e relativa estabilidade para os não-negros (0,1%), a redução da diferença entre valores tão díspares não significou melhora consistente no rendimento daqueles que ganham menos. Em 2004, os salários dos negros eram 46,9% menores.

Para a economista, a diferença de remuneração também pode ser explicada com o menor nível de escolaridade dos negros. "Normalmente as famílias necessitam que todos os integrantes trabalhem para ajudar na composição da renda. Com isso, acaba-se não tendo tempo de estudar. Isso é um círculo vicioso e os negros acabam atuando em áreas que exigem menor nível de escolaridade e consequentemente com salários menores", explica Patrícia.

Esse diferencial e a necessidade, entre as famílias negras, de mais integrantes trabalharem, podem ser compreendidos ao se verificar o rendimento médio familiar per capita, que, mesmo apresentando crescimento em ambos os segmentos no período, é de R$ 514 para os negros, quase a metade do valor correspondente aos não-negros (R$ 985).

A taxa de desemprego total dos negros é superior à dos não-negros, mas ambas diminuíram no período analisado. "Esse decréscimo foi maior entre os negros, fazendo com que a diferença de suas respectivas taxas reduzisse de 6,1% para 4,1%. As mulheres negras, em especial, detêm os resultados mais desfavoráveis, com taxa de desemprego de 19,5%", numera a economista.

Na contramão das más notícias, a região abriga personagens de sucesso. Mirtes Ribeiro Júnior, diretor administrativo e financeiro do Instituto Coração de Jesus, em Santo André, é um desses exemplos.

Aos 35 anos, ele dirige cerca de 800 alunos do colégio e da universidade filiada. "Comecei a trabalhar aos 14 anos, mas meus pais me tiraram do emprego quando perceberam que eu estava deixando os estudos de lado. Mais velho, entrei no exército e me tornei oficial temporário, fui vítima de preconceito mas consegui superar bem isso. Atualmente me dedico cerca de 12 horas diárias aos alunos", destaca o diretor.

Para Mirtes, ser negro nunca foi empecilho. "Nunca me subestimei por isso e acredito que preconceito é bobagem, não importa a cor, importa a capacidade e a vontade de trabalhar", finaliza.




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