Carlos Boschetti Titulo Análise
A crise mundial do petróleo
Carlos Boschetti
28/01/2016 | 07:28
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Historicamente, o petróleo sempre foi considerado a matéria-prima mais importante e inovadora na vida da população mundial. Suas múltiplas aplicações transformam nosso cotidiano e promovem o desenvolvimento de todos os segmentos econômicos e sociais. Durante décadas, esse recurso foi sempre o centro do desenvolvimento e de conflitos entre vários países, cujo preço foi o fiel da balança entre a oferta e a demanda. Já tivemos consumo em alta, o que elevou o preço a níveis acima de US$ 150 o barril, fortalecendo produtores e levando importadores à crise de consumo, abalando a economia de muitos. O poder do ‘petrodólar’ desencadeou busca frenética por fontes renováveis de geração de energia verde, como foram denominadas pelos países industrializados. Então, a partir dos anos 1990, as nações desenvolvidas iniciaram, por meio de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a busca por nova matriz de energia com o objetivo de redução de custo de eletricidade, principalmente por meio de fontes renováveis e sustentáveis, como eólica, exotérmicas, etanol, carros elétricos ou movidos a hidrogênio. Na década passada, a oferta aumentou com muitos países economicamente dependentes da produção e exportação, principalmente com o crescimento acelerado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com a diversificação da matriz energética norte-americana, a viabilidade econômica da produção de petróleo derivado do xisto e a crise na União Europeia, desencadeou-se crise entre oferta e demanda.

O Brasil também se destacou nesse período com as reservas do pré-sal e a grande capacidade tecnológica da Petrobras na prospecção e extração do produto em mais de 5.000 metros de profundidade ao longo da costa brasileira. Todavia, devido à alta complexidade e aos riscos associados à toda cadeia produtiva, o preço do barril, apesar de alto, era muito competitivo. A partir do início da década atual, o crescimento da oferta começou a cair e a demanda passou a dar sinais de queda. A Opep ( Organização dos Países Exportadores de Petróleo) então iniciou redução significativa de preço ao longo dos últimos cinco anos, e atingimos, no início de janeiro, preços cotados abaixo de US$ 30 o barril. Nova pressão sobre os custos passará ser o retorno do Irã ao contexto internacional após a retirada do embargo por parte dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia. O país voltará a oferecer grandes volumes ao mercado global, aumentando a oferta, motivado pela desaceleração da Ásia e pela deterioração da Rússia e do Brasil, o que afetará o preço de petróleo, derrubando o barril ao patamar próximo aos US$ 20. A repercussão nas produtoras já abalou os investimentos de longo prazo, que serão cortados em mais de US$ 350 bilhões, sendo que a Petrobras reduzirá, no mínimo, em US$ 100 bilhões. Como todos sabemos da situação dramática de caixa e da necessidade de venda de ativos, e o preço internacional do barril só cai, a Petrobras terá de mudar radicalmente sua estratégia de investimento e, como resultado, tem-se a destruição da cadeia de valor de indústrias, consequentemente gerando fechamento e demissão em massa de trabalhadores. Todo o sonho de nova realidade projetada para nossa sociedade com a riqueza sonhada pelo pré-sal está ladeira abaixo, pois não temos como manter os aportes através da regulamentação atual, o que afasta os investidores e certamente afetará o preço do combustível no mercado doméstico. Portanto, a população mais uma vez não se beneficiará da redução dos preços da gasolina nos postos do mundo inteiro e corre o risco de pagar pela necessidade de capitalização da Petrobras por meio do aumento de impostos e dos combustíveis.
 




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