Economia Titulo Trabalho
Desemprego sobe 16,7% no Grande ABC em 2015

Aumento é o maior para as sete cidades desde
2000; 40 mil demitidos tinham carteira assinada

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
28/01/2016 | 07:25
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Nario Barbosa/DGABC


O total de desempregados no Grande ABC cresceu 16,7% de 2014 para 2015. É o maior percentual de alta nesse indicador desde 2000. Em números absolutos, o contingente de trabalhadores sem emprego na região aumentou em 25 mil de um ano para o outro, passando de 150 mil para 175 mil. Os dados são da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e divulgada ontem.

A PEA (População Economicamente Ativa) nas sete cidades foi encolhida em 0,5%, de 1,406 milhão para 1,399 milhão. Ou seja, 7.000 pessoas deixaram o mercado de trabalho. Uma das explicações para essa redução é a falta de confiança do trabalhador na economia, o que o desmotiva a procurar emprego. O entrevistado que declara não estar em busca de ocupação não é considerado desempregado.

O total de empregados caiu de 1,256 milhão para 1,224 milhão. A redução de 32 mil pessoas equivale a 2,5% de queda – também é a maior desde 2000. Entre os demitidos, 40 mil possuíam carteira de trabalho assinada. A redução no nível de emprego nesse grupo foi de 5,4%, a mais acentuada desde 2000. Coordenador da PED, o economista Alexandre Loloian considera esse dado como alarmante, já que, em momentos de crise, as empresas tentam ao máximo segurar o funcionário registrado, pois a demissão gera ônus ao empregador. Entre os assalariados sem carteira assinada, houve queda de 10,2%, o que representa 9.000 postos a menos.

Por outro lado, houve aumento de 4,8% na quantidade de autônomos, que passaram de 183 mil para 192 mil. Loloian destaca que esse movimento também é comum em épocas em que a economia vai mal. Isso porque muitos desempregados utilizam a verba rescisória para tentar a sorte em negócio próprio.

O segmento que mais demitiu foi a indústria, com 32 mil cortes (retração de 10,3% no nível de emprego). A construção eliminou 24 mil vagas (-7,7%), enquanto o setor de serviços desligou 9.000 pessoas, o que representa redução de 1,4% no estoque.

O comércio, porém, fechou o ano com saldo positivo de 14 mil empregos – alta de 7% em relação a 2014. “Trata-se de ajuste de mão de obra, já que esse setor demitiu muito nos últimos anos”, comenta Loloian. Para se ter ideia, em 2013 a estimativa era de que 218 mil pessoas trabalhavam nessa área na região. Em 2014, o estoque caiu para 198 mil e, agora, voltou para 212 mil.

Proporcionalmente, o grupo de trabalhadores com idade entre 40 e 49 anos foi o que teve maior aumento na taxa de desemprego. O número de desocupados nessa faixa etária teve aumento de 22,6% entre 2014 e 2015. “Essas pessoas são as que, frequentemente, têm salário mais elevado e mais tempo de empresa”, avalia Loloian.

RENDIMENTO - A renda média na região teve queda de 7,3% no acumulado entre janeiro e novembro de 2015 ante o mesmo período do ano anterior, recuando de R$ 2.341 para R$ 2.170. Em toda a Grande São Paulo, a estimativa é de que a diminuição no valor pago aos trabalhadores represente perda de aproximadamente R$ 20,4 bilhões no poder de compra da população. O valor é mais do que quatro vezes superior ao que foi gasto com a obra do Trecho Sul do Rodoanel.


Indústria contratou 41 mil em dezembro, diz pesquisa

Ao contrário do que ocorreu ao longo de todo o ano, a indústria voltou a contratar na região. Segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), 41 mil postos de trabalho no setor foram abertos em dezembro, na comparação com novembro. Ante o último mês de 2014, são 6.000 vagas preenchidas a mais. Os dados são diferentes dos publicados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) porque, ao contrário desses dois levantamentos, a PED também leva em conta os trabalhos informal e autônomos. Pode contribuir na alteração do resultado o fato de que cerca de 20% dos entrevistados para elaboração da PED não trabalham no Grande ABC, mesmo morando em uma das sete cidades.

Coordenador da pesquisa, o economista Alexandre Loloian cita algumas explicações possíveis para o aumento no emprego industrial. “Com o real desvalorizado, muitas empresas podem estar trocando materiais importados por outros produzidos nacionalmente, o que eleva a demanda”, comenta. Ainda sob a ótica do câmbio, o momento é mais propício para a exportação, já que os compradores internacionais pagam menos pelos produtos brasileiros, com o dólar a R$ 4, o que contribui para aquecer a produção. Entretanto, ele acredita ainda ser precoce a avaliação de que a indústria está se recuperando da crise.


Em torno de 43% das adesões ao PPE no País estão na região

Levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostra que, em todo o Brasil, 46.829 trabalhadores aderiram ao PPE (Programa de Proteção ao Emprego) desde agosto. O plano emergencial foi lançado em agosto de 2015 pelo governo federal e permite aos empregadores reduzir em até 30% a carga horária e os salários pagos durante momentos de crise.

Desse total, 36.067 são do Estado de São Paulo e 20.365 atuam em empresas sediadas no Grande ABC. Ou seja, 43,49% das adesões ao PPE em todo o Brasil estão concentradas na região. A primeira companhia a se inscrever, inclusive, é de São Bernardo, a Rassini Autopeças, com 551 beneficiários.

No Brasil, 85 termos de adesão foram assinados, sendo 53 em 2015 e 32 neste ano. Na região, ao todo, são 19 acordos. Desses, nove são ligados ao setor automotivo (incluindo a Volkswagen, com três contratos; a Ford, com dois; e a Mercedes-Benz, com um); quatro são indústrias metalúrgicas; quatro do segmento fabril em geral (a Dura Automotive, de Rio Grande da Serra possui dois termos); e uma do ramo de serviços.

O economista da Fundação Seade Alexandre Loloian elogia o programa e diz que, sem ele, os dados sobre o desemprego na região seriam ainda piores. 




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