Política Titulo
Justiça investiga empreiteira em S.Bernardo
Alexandre Hisayasu
Da Redaçao 
27/03/1999 | 19:35
Compartilhar notícia


O Ministério Público está investigando a remoçao para área de manancial localizada no Parque das Garças, em Sao Bernardo, das famílias retiradas da favela que estava instalada no terreno que cedeu lugar para a ampliaçao da avenida Lauro Gomes. A promotora Rosângela Staurenghi, do Meio Ambiente, disse que vai intimar a Emparsanco, empreiteira responsável pela obra na avenida e construçao dos prédios na área de preservaçao; o secretário municipal de Obras, Luiz Roberto Beber; e a diretora do Meio Ambiente da cidade, Sônia Lima, para prestar esclarecimentos. 

O prédio de 18 apartamentos, segundo a promotora, foi construído sem licenciamento do Estado e de maneira totalmente irregular. "As investigaçoes podem chegar a duas conseqüências: na área cível, os responsáveis pela construçao deverao demolir o prédio e fazer a recuperaçao da área. Na área criminal, serao processados por crime contra o meio ambiente", afirmou Rosângela. Sobre a Prefeitura recai a suspeita de negligência.  

Documentos em poder da promotora dao conta de que a obra foi vistoriada por um auxiliar técnico do Meio Ambiente. O relatório foi refeito duas vezes. Na primeira versao, afirmava que os moradores dos prédios informaram que foram para lá por meio do secretário de Obras. A acusaçao foi retirada no segundo relatório (ver fac-símile).  

Jacy Munhoz, diretor da empreiteira Emparsanco, admitiu ao Diário que o dinheiro usado para remoçao de moradores da favela, conhecida como Rato Molhado, para o Parque das Garças, bem como a verba para a construçao do prédio, partiu da própria empresa. Atualmente, 18 famílias ocupam pequenos apartamentos de três cômodos na rua Maurício Galante, construídos em meados do ano passado.  

Munhoz disse que a Emparsanco contratou os serviços da empresa Rodovias para retirar os moradores da favela Rato Molhado, que ocupava uma área onde a avenida Lauro Gomes, que ainda nao foi inaugurada, está construída.

O Diário apurou que as negociaçoes se iniciaram em março do ano passado.  Os funcionários Sérgio Contro e outro identificado por Gilson, que nesta época diziam que eram funcionários da Giagui (outra empreiteira participante da Emparsanco), ofereciam três opçoes aos moradores: famílias com até duas pessoas receberiam R$ 1 mil para deixarem seus barracos; com até três, R$ 1,5 mil; e, com mais de quatro pessoas, R$ 2 mil.  "O objetivo era ressarcir aqueles que nao tinham para onde ir. Admito que acabei me envolvendo emocionalmente. Houve casos em que a empresa pagou o processo de divórcio de um casal da favela. Em várias oportunidades, pagamos a passagem para moradores que queriam voltar para seus Estados de origem", disse Munhoz.  

Os moradores (cerca de 50 famílias) que nao aceitaram a proposta da empresa foram levados para a Vila Império, que fica próxima à Uniban (Universidade Bandeirante de Sao Paulo), em Sao Bernardo. Atualmente, o local está com cerca de 25 famílias morando em barracos de madeira. Dezoito foram para o Parque das Garças e o restante está na casa de parentes.  

Munhoz afirmou que desconhecia a remoçao. "Apenas demos o dinheiro. O lugar foi escolhido por eles e a construçao levantada pelos moradores."  Entre maio e junho do ano passado, um funcionário da empresa Rodovias, contratada, segundo Munhoz, pela Emparsanco para retirar os moradores da favela da avenida Lauro Gomes, procurou Jonas Inácio da Silva, proprietário do terreno onde está o prédio.  "Essa pessoa me ofereceu uma quantia pela área e eu aceitei vender", disse Jonas. Ele contou que o pagamento foi feito em dinheiro e sem recibo. O valor: R$ 16,5 mil.

O ex-proprietário confirmou a história em depoimento prestado na última quinta-feira.  Segundo a promotora, é estranho o fato de Jonas afirmar que nao se lembra do nome do comprador e nao ter pego nenhum recibo. "A medida que as investigaçoes forem avançando, chegaremos a mais provas."  

As 18 famílias ocupam um terreno localizado a menos de 200 m do Lixao do Alvarenga, bastante conhecido pelos ambientalistas como uma área insalubre, por abrigar catadores de papel que vivem em meio ao lixo doméstico, ratos e produtos tóxicos. A ligaçao elétrica é clandestina e caminhoes-pipa passam a cada 15 dias para abastecer os moradores.  

Em meio às moscas, Margarida Teotônio de Souza, 53 anos, moradora de um apartamento, afirmou que eles nao gastaram nada para ocupar os imóveis irregulares. "O Sérgio (Contro) e o Gilson nos trouxeram aqui. Quando chegamos, o prédio já estava construído."  Munhoz afirmou que a empreiteira irá retirar os moradores da área e demolir as construçoes. "Irei colocá-los na Vila do Tanque, em Sao Bernardo."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;