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Mal de Chagas afeta 2,8 milhões de argentinos
Da AFP
12/09/2005 | 16:46
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O infectologista Horacio Mingrone informou que o mal de Chagas, que não tem vacina ou cura, afeta 2,8 milhões de pessoas na Argentina, um país avaliado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o de maior IDH (índice de desenvolvimento humano) da América Latina.

"É vergonhoso porque a solução é fazer com que as pessoas não vivam em cabanas", sintetizou o infectologista, em alusão à necessidade de erradicar as residências precárias.

Nos tetos de palha e nas paredes sem reboco das casas mais pobres vive o barbeiro (Triatoma infestans) ou "vinchuca", como é chamado na Argentina, inseto que pica humanos e animais para se alimentar de seu sangue, e que transmite o Tripanosoma cruzi, protozoário parasita causador da doença.

A pobreza extrema cria a situação ideal para a persistência de uma doença relegada pela comunidade científica, com apenas dois medicamentos disponíveis para ser tratada e poucos especialistas. As vias de contágio são a picada do inseto, a transfusão de sangue contaminado e a transmissão de mãe para filho.

"É uma doença não midiática, que não gera renda e, além disso, é derivada de parasitas, que são como os primos pobres dos (agentes) infecciosos, pois os ricos são os vírus", ironizou Mingrone.

O mal de Chagas recebe menor atenção da comunidade científica que a Aids, que afeta na Argentina 130 mil pessoas. Na América do Sul há 18 milhões de pessoas com o mal de Chagas, segundo a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

"Vamos para uma fase de emergência", advertiu o médico David Gorla, que dirige o Centro de Pesquisa Científica e Transferência Tecnológica da província de La Rioja (noroeste). Gorla deu como exemplo a província de Santiago del Estero, onde "para cada caso agudo são calculados outros 80 não detectados".

A doença voltou a castigar neste ano áreas onde havia sido erradicada e, na maioria dos casos, o doente não apresenta sintomas durante a fase aguda, a única em que os tratamentos funcionam.

Ao se tornar crônica, as seqüelas causam incapacidade e podem levar à cegueira ou à morte por cardiopatias severas, distensão do esôfago ou do cólon. "Cinqüenta por cento da população indígena do noroeste está infectada", disse Gorla.

O médico denunciou a falta de inseticidas contra o barbeiro e medicamentos que são levados às áreas mais afetadas em veículos caindo aos pedaços. "Não há interesse por parte da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de drogas porque não é lucrativo", denunciou.

As províncias com maior número de casos são Santiago del Estero, La Rioja, Formosa e Chaco, as mais pobres da Argentina.

"É inadmissível o número de infectados que existe no país", disse, por sua vez, Sergio Sosa Estani, chefe do Serviço de Epidemiologia do Centro Nacional de Diagnóstico e Pesquisa de Endemoepidemias.

Sosa Estani destacou que o grupo mais exposto é o das crianças, visto que a doença se desenvolve geralmente nos primeiros 10 anos de vida.



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