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'Mulher-Gato' é puro entretenimento
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
12/08/2004 | 22:47
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Existem duas coisas que valem a pena em Mulher-Gato, longa que estréia nesta sexta-feira no Brasil, sendo seis salas no Grande ABC. A primeira, até pitboy reconhece: é Halle Berry, menos pelos aspectos dramáticos que pela beleza transbordante, que mal cabe na tela. A segunda qualidade dessa adaptação dos quadrinhos de Bob Kane são as tentativas (mesmo que malogradas) de hipertexto que o diretor Pitof promove ao longo do filme.

Não é machismo considerar os contornos e a sensualidade de Halle antes de seu trabalho de atriz – já ganhou um Oscar, por A Última Ceia. Mas, em Mulher-Gato, é impossível ficar indiferente. Tanto diante da presença de tela dessa morena deslumbrante, quanto da desajeitada direção de atores de Pitof.

Halle assume papel que outrora coube a Michelle Pfeiffer em Batman – O Retorno (de Tim Burton). Nos quadrinhos, a Mulher-Gato era prostituta e ambígua (ao mesmo tempo, heroína e vilã); no filme de Pitof, perde-se a dualidade, e a personagem transforma-se na artista plástica Patience Philips, contratada de uma grande empresa de cosméticos.

Patience descobre que o novo produto de seus empregadores, um creme rejuvenescedor revolucionário, guarda em sua composição elementos químicos capazes de, a médio prazo, deformar o rosto de suas usuárias. É flagrada enquanto espiona, e assassinada a mando da mulher do dono da empresa, vivida por Sharon Stone. A heroína ressuscita, graças a habilidades felinas concedidas por um gato que desde o Egito antigo é agente transmissor desses poderes, e parte em busca de seus algozes.

Ex-supervisor de efeitos especiais do francês Luc Besson (O Quinto Elemento), Pitof bota então as manguinhas de fora. Talvez pretenda, tal qual seu mestre Besson, as desmesuras e o grotesco elegante. Mas sua iniciativa é descamisada, rica de intenções e pobre de conclusões.

Quer fazer crítica à vaidade feminina, extremada na sua visão. O personagem de Sharon, uma quarentona que almeja a beleza fresca e padronizada dos editoriais de moda, tem o rosto duro qual mármore por ter usado o tal creme por anos a fio. Já Halle vive personagem nada vaidosa que, ao transformar-se em Mulher-Gato, adota uma beleza vulgar, quase prostituta, com batom vermelhão e uniforme de couro à dominatrix. Não existe aí propriamente uma crítica de comportamento, mas uma exposição pura, simples e ineficaz, que piora na cena em que Patience disputa uma partida de basquete com o namorado (Benjamin Bratt). Assistido por crianças, o casal sua na quadra enquanto rola uma tensão sexual crescente. Debate sobre a infantilização do sexo na mídia? Ninguém sabe. Talvez nem Pitof.




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