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Fé faz centenas buscarem clausura em mosteiros de SP
27/12/2015 | 10:48
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São oásis de tradição e tranquilidade dentro da barulhenta, caótica e estressante São Paulo. Dentro das várias casas religiosas que existem na capital paulista, algumas poucas centenas de paulistanos vivem, em menor ou maior rigidez de clausura. As histórias delas são únicas - duas já receberam papas da Igreja Católica, João Paulo II e Bento XVI; e duas foram residências de figuras que depois se tornaram santos: Madre Paulina e Frei Galvão.

Desde 1598, um monge badala um sino às 5h05 da manhã no centro de São Paulo. É o começo da rotina do Mosteiro de São Bento. O repique tem a função de despertar os outros 41 religiosos que vivem no claustro. Em 25 minutos, eles devem estar a postos no altar da ainda fechada Basílica de Nossa Senhora da Assunção, onde vão entoar o Ofício Divino, primeira das cinco orações do gênero celebradas diariamente. A rotina segue as orientações contidas nos 73 capítulos da Regra de São Bento, cuja autoria é atribuída ao santo católico que viveu entre os anos 480 e 550.

Os monges de São Bento têm liberdade para entrar e sair da clausura, desde que com consciência. "Não há uma predefinição de tempo. O mosteiro é um complexo. A clausura é um espaço físico dentro do mosteiro. O importante é o equilíbrio. E deve-se ter consciência deste trânsito e movimentação", explica o monge João Baptista. "Temos um colégio, uma faculdade, um teatro. A Igreja é uma das mais visitadas de São Paulo. Há, portanto, o desafio em como manter o silêncio dentro desta cidade barulhenta. Estamos no centrão de São Paulo. Temos todo um diálogo com esta cidade e com o povo que circula e nos procura em busca de palavras espirituais."

Um dos pontos altos da história de mais de 400 anos do mosteiro foi a visita do papa Bento XVI - coincidentemente, um papa chamado Bento, foi o fundador da ordem - a São Paulo, em 2007. O quarto onde ele ficou hospedado se tornou um memorial, preservado exatamente como naqueles dias.

Santos. Vinte e sete anos antes, em 1980, quando o papa João Paulo II foi o primeiro líder máximo da Igreja Católica a visitar São Paulo, a honraria de hospedá-lo coube a outra abadia beneditina de São Paulo: o Mosteiro São Geraldo, fundado em 1950 por monges húngaros no Morumbi. Os aposentos onde São João Paulo II ficou também foram mantidos como um pequeno museu - uma relíquia que muito orgulha os 17 monges que vivem ali.

Instituições religiosas do tipo também abrigaram personalidades católicas que depois se tornaramreligião santas reconhecidas pelo Vaticano. É o caso da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, onde viveu a religiosa Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), a Madre Paulina, canonizada em 2002 e fundadora da organização. O quarto onde ela morreu é preservado como um memorial. A casa abriga 12 religiosas.

Ali não há clausura. "Temos sim privacidade, mas vivemos em uma casa normal", comenta Rosacy Soares Costa, vice-coordenadora geral da instituição. "O contato com o mundo se dá nos diversos espaços onde realizamos nossa missão."

Já no Mosteiro da Luz, no bairro da Luz, casa fundada e construída por Antônio de Sant?Ana Galvão (1739-1822), o Frei Galvão, que se tornou santo em 2007, o silêncio e o isolamento são regra. As 14 religiosas que vivem ali só saem por três razões: saúde, compras e um período de férias - geralmente dez dias a cada dois anos. E tudo somente sob autorização da abadessa e, geralmente, em duplas. "Também acabam sendo liberadas para participar de festas muito especiais da Igreja, como a procissão de Corpus Christi", exemplifica o capelão do mosteiro, padre José Arnaldo Juliano dos Santos.

E são pouquíssimos, além das religiosas, os que podem, eventualmente, entrar na clausura. "Autoridades religiosas, como o arcebispo, além do capelão e de um padre para auxiliá-las nas questões administrativas", enumera padre Santos. Mesmo o padre confessor não entra ali. As religiosas são atendidas na sala chamada parlatório, separadas do interlocutor por grades.

A título de curiosidade, vale dizer que ainda não há nenhum paulistano que tenha se tornado santo para a Igreja Católica. Mas alguns canonizados viveram ou pelo menos passaram pela cidade. É o caso do padre José de Anchieta (1534-1597), jesuíta espanhol que foi reconhecido como santo pelo Vaticano em 2014. Com outros religiosos, Anchieta subiu ao então Planalto de Piratininga em 1554 e, onde hoje é o Pátio do Colégio, fundou a vila que daria origem a São Paulo. A capital paulista também recebeu a visita de São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), padre espanhol fundador do Opus Dei, em 1974.

Natal

As monjas reforçam o momento de silêncio nos dias que antecedem as festas mais importantes da Igreja Católica, a Páscoa e o Natal - mais importante, solene e celebrado que o ano-novo para os religiosos. Elas costumam fazer um retiro por duas ou três semanas, com jejum e muita oração, como preparação para tais datas. "Elas têm uma espiritualidade própria", diz o capelão. A ordem é a Imaculada Conceição - por isso são chamadas de monjas concepcionistas.

No São Bento, o Natal é sempre marcado pelas antífonas especiais, entre os dias 17 e 23. "São antífonas do Hino Evangélico do Magnificat, que sempre inicia com a exclamação ?O?, louvando a realeza de Deus que irá nascer como homem", afirma o monge João Baptista. Na quinta-feira, foi feita a bênção do presépio, que fica exposto aos fiéis até o dia 6. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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