Desde 1598, um monge badala um sino às 5h05 da manhã no centro de São Paulo. É o começo da rotina do Mosteiro de São Bento. O repique tem a função de despertar os outros 41 religiosos que vivem no claustro. Em 25 minutos, eles devem estar a postos no altar da ainda fechada Basílica de Nossa Senhora da Assunção, onde vão entoar o Ofício Divino, primeira das cinco orações do gênero celebradas diariamente. A rotina segue as orientações contidas nos 73 capítulos da Regra de São Bento, cuja autoria é atribuída ao santo católico que viveu entre os anos 480 e 550.
Os monges de São Bento têm liberdade para entrar e sair da clausura, desde que com consciência. "Não há uma predefinição de tempo. O mosteiro é um complexo. A clausura é um espaço físico dentro do mosteiro. O importante é o equilíbrio. E deve-se ter consciência deste trânsito e movimentação", explica o monge João Baptista. "Temos um colégio, uma faculdade, um teatro. A Igreja é uma das mais visitadas de São Paulo. Há, portanto, o desafio em como manter o silêncio dentro desta cidade barulhenta. Estamos no centrão de São Paulo. Temos todo um diálogo com esta cidade e com o povo que circula e nos procura em busca de palavras espirituais."
Um dos pontos altos da história de mais de 400 anos do mosteiro foi a visita do papa Bento XVI - coincidentemente, um papa chamado Bento, foi o fundador da ordem - a São Paulo, em 2007. O quarto onde ele ficou hospedado se tornou um memorial, preservado exatamente como naqueles dias.
Santos. Vinte e sete anos antes, em 1980, quando o papa João Paulo II foi o primeiro líder máximo da Igreja Católica a visitar São Paulo, a honraria de hospedá-lo coube a outra abadia beneditina de São Paulo: o Mosteiro São Geraldo, fundado em 1950 por monges húngaros no Morumbi. Os aposentos onde São João Paulo II ficou também foram mantidos como um pequeno museu - uma relíquia que muito orgulha os 17 monges que vivem ali.
Instituições religiosas do tipo também abrigaram personalidades católicas que depois se tornaramreligião santas reconhecidas pelo Vaticano. É o caso da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, onde viveu a religiosa Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), a Madre Paulina, canonizada em 2002 e fundadora da organização. O quarto onde ela morreu é preservado como um memorial. A casa abriga 12 religiosas.
Ali não há clausura. "Temos sim privacidade, mas vivemos em uma casa normal", comenta Rosacy Soares Costa, vice-coordenadora geral da instituição. "O contato com o mundo se dá nos diversos espaços onde realizamos nossa missão."
Já no Mosteiro da Luz, no bairro da Luz, casa fundada e construída por Antônio de Sant?Ana Galvão (1739-1822), o Frei Galvão, que se tornou santo em 2007, o silêncio e o isolamento são regra. As 14 religiosas que vivem ali só saem por três razões: saúde, compras e um período de férias - geralmente dez dias a cada dois anos. E tudo somente sob autorização da abadessa e, geralmente, em duplas. "Também acabam sendo liberadas para participar de festas muito especiais da Igreja, como a procissão de Corpus Christi", exemplifica o capelão do mosteiro, padre José Arnaldo Juliano dos Santos.
E são pouquíssimos, além das religiosas, os que podem, eventualmente, entrar na clausura. "Autoridades religiosas, como o arcebispo, além do capelão e de um padre para auxiliá-las nas questões administrativas", enumera padre Santos. Mesmo o padre confessor não entra ali. As religiosas são atendidas na sala chamada parlatório, separadas do interlocutor por grades.
A título de curiosidade, vale dizer que ainda não há nenhum paulistano que tenha se tornado santo para a Igreja Católica. Mas alguns canonizados viveram ou pelo menos passaram pela cidade. É o caso do padre José de Anchieta (1534-1597), jesuíta espanhol que foi reconhecido como santo pelo Vaticano em 2014. Com outros religiosos, Anchieta subiu ao então Planalto de Piratininga em 1554 e, onde hoje é o Pátio do Colégio, fundou a vila que daria origem a São Paulo. A capital paulista também recebeu a visita de São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), padre espanhol fundador do Opus Dei, em 1974.
Natal
As monjas reforçam o momento de silêncio nos dias que antecedem as festas mais importantes da Igreja Católica, a Páscoa e o Natal - mais importante, solene e celebrado que o ano-novo para os religiosos. Elas costumam fazer um retiro por duas ou três semanas, com jejum e muita oração, como preparação para tais datas. "Elas têm uma espiritualidade própria", diz o capelão. A ordem é a Imaculada Conceição - por isso são chamadas de monjas concepcionistas.
No São Bento, o Natal é sempre marcado pelas antífonas especiais, entre os dias 17 e 23. "São antífonas do Hino Evangélico do Magnificat, que sempre inicia com a exclamação ?O?, louvando a realeza de Deus que irá nascer como homem", afirma o monge João Baptista. Na quinta-feira, foi feita a bênção do presépio, que fica exposto aos fiéis até o dia 6. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.