Economia Titulo Crise
Inflação volta a dois dígitos após 12 anos

De dezembro até mês passado, IPCA acumulou
10,48%; em novembro, a variação foi de 1,01%

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/12/2015 | 07:03
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Divulgação


O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação no País, voltou a superar a marca de dois dígitos no acumulado de 12 meses, chegando, em novembro, a 10,48%. A última vez que isso tinha ocorrido foi em 2003 – primeiro ano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os dados sobre a elevação no custo de vida, divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também batem recordes negativos tanto em novembro (1,01%) quanto no acumulado do ano (9,62%), os mais altos índices desde 2002.

Os grupos de alimentação, transportes e habitação foram os que puxaram a alta da inflação em novembro, com aumentos de 1,83%, 1,08% e 0,76%, respectivamente. O analista socioeconômico do IBGE Jefferson Mariano ressalta que os reajustes de tarifas públicas administradas, como de gás de cozinha, combustíveis e energia elétrica, foram os principais responsável pelas elevações de preços nessas três áreas. Quanto aos alimentos, eles foram prejudicados pelas alterações no clima, marcadas primeiro por forte estiagem e, em seguida, por chuvas intensas.

Em 12 meses, o botijão de gás ficou, em média, 23% mais caro no País, enquanto os combustíveis veiculares subiram 20,56%. Entretanto, o que mais pesou no bolso foi a energia elétrica residencial, que aumentou 51,27% em todo o Brasil no período. Em São Paulo, a elevação foi ainda mais significativa, de 69,67%. Essas tarifas são controladas pelo governo e, como lembra Mariano, ficaram represadas nos últimos anos, o que provocou a disparada em 2015, já que os reajustes foram feitos abruptamente.

Para tentar conter a inflação, o BC (Banco Central) iniciou no ano passado a elevação da taxa básica de juros (Selic). O primeiro aumento, de 11% para 11,25% ao ano, ocorreu em 29 de outubro, três dias depois de a presidente Dilma Rousseff (PT) ser reeleita no segundo turno. Atualmente, a taxa está em 14,25% e deve voltar a subir no início do ano. “A elevação dos juros tem o objetivo de tentar conter a demanda. Porém, grande parte da inflação do País não está na demanda, e sim nos custos. Portanto, o aumento dos juros acaba tendo efeito pequeno”, comenta o professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista.

Outro fator responsável pela pressão inflacionária no País, acrescenta o especialista, é a indexação da economia brasileira. “Muitos preços estão atrelados à inflação do ano anterior. Isso acaba gerando uma espiral ascendente”, explica. Ele cita como exemplo o reajuste do salário mínimo, cujo cálculo é feito com base na soma do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do ano anterior com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. No acumulado de 12 meses, o INPC já chegou a 10,97%. “Depois, o que acontece é o seguinte: se o mínimo sobe 12%, por exemplo, lá na frente os preços também serão contaminados com esse aumento. Esse é o efeito da espiral”, complementa.

METAS - O centro da meta para inflação definida pelo BC é de 4,5% ao ano, com possibilidade de oscilação, de mínima de 2,5% até o teto de 6,5%. Segundo analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central para elaboração do Relatório Focus, o teto da meta não deverá ser atingido nem em 2016, quando a expectativa do setor é de que o IPCA finalize dezembro em 9,7%. 




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