Economia Titulo Retração
Depósitos na poupança caem depois de 11 anos

No terceiro trimestre, volume de investimentos
na aplicação foi reduzido em R$ 593,2 milhões

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
06/12/2015 | 07:29
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Marcos Santos/USP Imagens


O volume de depósitos na poupança feitos por moradores do Grande ABC registrou queda de 1,3% no terceiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Foi a primeira redução no montante investido desde 2003 – primeiro ano de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando houve diminuição de 1,07% ante 2002.

Entre julho e novembro foram aplicados R$ 45,182 bilhões nas contas poupança de agências localizadas nas sete cidades da região. O montante é R$ 593,2 milhões inferior ao do terceiro trimestre de 2014. O levantamento foi feito pelo Diário com base nos dados mais recentes da Estban (Estatística Bancária por Município), do BC (Banco Central).

A série de elevações nos depósitos começou de 2003 para 2004, mas começou a ganhar mais força de 2006 para 2007, período em que o Copom (Conselho de Política Monetária) do BC iniciou sequência de queda da Selic. Em janeiro de 2006, a taxa básica de juros estava fixada em 18% ao ano. Ao fim de 2007, foi reduzida para 11,25%. A política de diminuição dos juros foi mantida até 2013, quando a taxa chegou a 7,25% ao ano, a mais baixa desde 1997. Em julho, ficou definida em 14,25%, percentual mantido até hoje.

O professor de Finanças Marcelo Cambria, da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), especialista em mercado de capitais, explica que, em momentos de elevação nos juros, a poupança se torna menos vantajosa em relação a outros fundos de investimento cuja rentabilidade é atrelada à Selic, como o CDB (Certificado de Depósito Bancário) pós-fixado baseado no CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e os títulos do Tesouro Direto.

Para se ter ideia, a pessoa que depositou R$ 1.000 na poupança no início de dezembro do ano passado iria resgatar R$ 1.079,45 nesta semana. O rendimento, portanto, foi de 7,94%. Já o CDB-DI tem remuneração definida com base em um percentual do CDI estipulado no momento da negociação. Conforme Cambria, geralmente a rentabilidade acertada fica em torno de 90% da taxa, que está em 14,14% ao ano.

Além de mais rentável, o professor salienta que o CDB, assim como a poupança, é considerado investimento de baixo risco. Isso porque é avalizado pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), entidade que, segundo o BC, permite que correntistas, poupadores e investidores possam recuperar os depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira em caso de intervenção, liquidação ou falência.

O especialista acrescenta que também existe a possibilidade de fazer um CDB pré-fixado, no qual a taxa de correção é definida no momento da assinatura do contrato. “Esse tipo de investimento é indicado quando a taxa de juros está em queda ou com alguma possibilidade de redução futura, o que não é o caso agora. Portanto, não parece ser um bom negócio atualmente, ainda mais porque o Banco Central vem sinalizando que deve aumentar a Selic, principalmente para cumprir, nos próximos anos, a meta de inflação”, explica.

Outra opção é o Tesouro Direto, cujos títulos podem oferecer taxas que cheguem perto de 16% ao ano. Entretanto, esse tipo de investimento possui data de vencimento. Ou seja, há prazos definidos para a venda desses papéis, que vão de 2018 a 2050, dependendo da linha escolhida. Cambria destaca que, no caso de resgate antes do período definido, a taxa fica sujeita a volatilidades, podendo ser, portanto, mais baixa que o esperado. Por esse motivo, ele orienta que a aplicação no Tesouro Direto seja feita por investidores que não pretendem recuperar o dinheiro no curto prazo e que possuam outra reserva monetária para caso de necessidade durante o tempo de espera pela venda.


Crise no País influencia queda na modalidade

Além da queda da rentabilidade da poupança em relação a outros tipos de investimento, as crises política e econômica do País contribuem para a redução nos depósitos nessa aplicação. “Estamos passando por recessão muito forte desde o ano passado, com aumento do desemprego e diminuição na renda da população. Ou seja, está sobrando menos dinheiro para que as pessoas possam poupar”, comenta o economista Antonio Carlos Alves dos Santos, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

O especialista acrescenta que, com menos recursos disponíveis, as famílias optam por utilizar as reservas para pagar dívidas, o que, segundo o professor, é uma decisão prudente. Isso porque os juros do cartão de crédito e do cheque especial para pessoa física, por exemplo, são muito mais pesados do que o rendimento da poupança. As taxas médias chegavam em outubro a 368,27% e 226,39% ao ano, respectivamente, de acordo com a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Os dados de novembro ainda não foram divulgados.

Santos comenta que o momento de insegurança no País também é responsável por reduzir o interesse pela modalidade. “De vez em quando surgem boatos em redes sociais de que haverá confisco na poupança. Esse clima de medo em relação ao futuro tem impacto forte”, complementa.

O temor sobre os rumos do Brasil também pode explicar a diminuição nos depósitos de 2002 para 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a Presidência da República após oito anos de gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na época, havia o temor, gerado pela transição entre governos, de que se repetisse o confisco na poupança, como ocorreu em 1990, no início do mandato do ex-presidente Fernando Collor de Mello (à época PRTB e, hoje, como senador, PTB).
 




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