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Caminho da criação
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
14/03/2010 | 08:28
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Quando Charles Darwin partiu, em 1831, numa viagem ao redor do mundo, a bordo do navio HMS Beagle, ainda pensava como a maioria: que tudo na Terra havia sido criado por Deus e permanecia da mesma forma desde então. Naquela época, não existia explicação científica para a diversidade de espécies, embora alguns estudiosos já discordassem do criacionismo, pregado pelo Cristianismo.

Durante cinco anos, o jovem britânico percorreu diversas ilhas e países, incluindo o litoral do Brasil. No decorrer da expedição, observou e fez muitas anotações sobre a enorme variedade de seres que encontrou. Também estudou fósseis de bichos que tinham desaparecido, mas possuíam semelhanças com outros existentes.

Darwin começou a questionar a crença da criação divina. Quando voltou à Inglaterra, já acreditava na hipótese de alguns estudiosos de que as espécies evoluíam com o tempo. Mas como ter certeza? Foi assim que começou a saga do naturalista em busca de evidências para comprovar a ideia.

A ORIGEM
Após anos de estudos e dedicação, ele publicou o livro A Origem das Espécies, em 1859, no qual explica a teoria de que toda a diversidade na Terra se formou gradativamente graças à evolução dos seres vivos. Isso ocorreu por causa da seleção natural: só os mais adaptados a sobreviver no ambiente conseguem produzir descendentes suficientes para manter a espécie.

Assim, as pequenas mudanças no organismo são transmitidas de uma geração a outra, fazendo com que ao longo de milhares de anos representem grandes alterações. Darwin ainda afirmou que toda forma de vida surgiu a partir do mesmo ancestral, um ser muito simples.

A obra chocou a sociedade na época. Confrontou a ideia de que o homem é a imagem e semelhança de Deus, sendo superior aos demais. No entanto, a comunidade científica a recebeu com entusiasmo.

O dilema em publicar a teoria e as tragédias pessoais que acometeram o estudioso estão no longa Criação, que estreia na sexta (19) nos cinemas. O filme dá uma ideia de como foi difícil driblar os preceitos da Igreja para mostrar ao mundo que tudo o que existe na Terra é resultado do milagre de 4 bilhões de anos de evolução.


Duas exposições mostram vida e obra de Darwin

Charles Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, numa família rica da Inglaterra. Aos 16, começou a estudar medicina por imposição do pai, mas sua paixão era história natural. Sempre foi esquisitão. Hipocondríaco, virava e mexia ficava doente. Também tinha mania de anotar tudo.

Depois que volta da viagem pelo mundo, casa-se com a prima Emma Wedgwood, com quem tem dez filhos. Desses, três morrem durante a infância, o que leva Darwin a acreditar que o parentesco tenha influenciado na fragilidade das crianças. Ele morreu em 19 de abril de 1882, aos 73 anos.

Quer saber mais? Há duas oportunidades imperdíveis. O Sesi Santo André (Praça Dr. Armando de Arruda Pereira, 100, tel.: 4997-3177) apresenta até dia 21 a exposição gratuita Darwin Now, sobre a vida e a obra do britânico. O Museu de Zoologia da USP (Avenida Nazaré, 481, tel.: 2065-8100), em São Paulo, prorrogou até 18 de abril a mostra Charles Darwin: Evolução para Todos!, que reúne fotos, ilustrações, vídeos e objetos para contar sua trajetória. Ingresso: R$ 2 e R$ 4.

 
Tormentos de um gênio

Ao aprender a Teoria da Evolução de Darwin na escola, a gente não tem noção do perrengue que o britânico passou no século 19. O filme Criação dá pequena noção de quanto o cientista (interpretado por Paul Bettany) sofreu.

O longa é baseado no livro Annie's Box (A Caixa de Annie, em tradução livre), escrito pelo tataraneto de Darwin, Randal Keyne. O que o nome feminino tem a ver com o homem que revolucionou a Ciência? Trata-se da segunda filha que ele teve com Emma (vivida por Jennifer Connelly). Anne Elizabeth (papel da talentosa Martha West) nasceu em 1841 e era a menina dos olhos do pai. Destemida e curiosa, amava a natureza tanto quanto ele.

Mas Annie adoece e morre aos 10 anos. Assim, Darwin, que frequentava a Igreja Anglicana, passa a contestar o criacionismo após a viagem no Beagle e abandona de vez a religião. No filme, o cientista é pressionado por amigos que sabem o poder que a teoria dele tem de transformar o pensamento da humanidade.

No entanto, o pior tormento do estudioso é sua própria consciência, que se materializa no fantasma de Annie e o acompanha durante toda a trama. É ela quem o tira da depressão e agonia profundas. Como em toda boa história, o personagem principal tem o momento de redenção. Acredite, mesmo quem não suporta biologia certamente vai se emocionar ao assistir Criação.




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