Embora já exista até livro best-seller dizendo o contrário, o Brasil é sim País racista. Apesar de alguns avanços, o tratamento desigual que a Nação proporciona aos descendentes de africanos que ajudaram e ajudam a construí-la fica evidente em estudos sociológicos bastante apropriados para embasar reflexões no Dia da Consciência Negra, celebrado hoje. O Grande ABC, infelizmente, não é exceção.

Levantamento da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) comprova que, do total de trabalhadores residentes nas sete cidades, 29,2% são negros ou pardos. Porém, o percentual cai em atividades que exigem formação mais elevada e, portanto, pagam melhores salários.

A indústria da região, setor cujos patrões notoriamente assinam contracheques com valores maiores, destina somente 27,7% das vagas aos negros. Por outro lado, afrodescendentes representam 42,6% dos empregados na construção civil, segmento que paga 21,7% menos que as fábricas. Diante de dados tão expressivos, é impossível sustentar que o Brasil não seja racista.

Wellington da Silva Bento, coordenador do grupo de trabalho de Igualdade Racial do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, dá depoimento pungente: existe no País o que ele classifica de racismo institucional. O brasileiro pode até esconder sua discriminação, para evitar a punição da lei, mas entre dois candidatos, um branco e um negro, rejeita o afrodescendente. A mesma pesquisa Seade/Dieese mostra que os salários dos brancos é maior.
Como acabar com a distorção? Reflexão, debate e políticas afirmativas são alguns dos caminhos. Mas não os únicos.

A região, por exemplo, pouco faz para incluir os negros. O próprio Consórcio fica a dever. Quais os projetos que a entidade tem a mostrar no dia em que o Brasil para e reflete sobre a consciência negra? Até que o feriado – nas cidades onde é feriado, porque nem todas regulamentaram a data – for utilizado apenas para ir à praia, nada mudará.