O comitê recompensou o princípio básico da organizaçao criada em dezembro de 1971 em Paris, segundo o qual ``todas as vítimas de desastre de origem humana ou natural têm direito a uma assistência profissional dada com rapidez e com a maior eficiência possível'.

``As fronteiras nacionais e as circunstâncias ou afinidades políticas nao devem ter nenhuma influência sobre o caso de quem deve receber a ajuda humanitária', segundo a organizaçao que foi premiada.

A organizaçao é considerada a primeira nao governamental e nao militar e é conhecida por trabalhos voluntários na guerra de Kosovo, Bósnia, após o terremoto da Turquia, entre outros. Nascida do grito de rebeliao de um grupo de médicos franceses em dezembro de 1971, a MSF já atuou em mais de 80 países. A MSF está destinada a prestar ajuda médica a vítimas de crises ou desastres, e também testemunhar violaçoes flagrantes dos direitos humanos.

Antes de seu nascimento oficial, em 21 de dezembro de 1971, a MSF começou atuando em Biafra, onde um milhao de pessoas morreram em três anos (1967-1970). Ao mesmo tempo em que se especializava em medicina de guerra, uma equipe de médicos franceses fazia denúncia sobre o genocídio de um povo abandonado. Esses homens viriam a auxiliar, em seguida, em outubro de 1970, nas inundaçoes de Bangladesh.

Nascido de dois dramas humanos e de uma utopia humanitária, MSF se impôs como a primeira associaçao internacional de ajuda médica, com mais de 10 mil voluntários, médicos, paramédicos, especialistas em logística e administradores.

Suas primeiras açoes oficiais foram registradas na Nicarágua afetada por um terremoto, em 1972, em Honduras, depois da passagem de um furacao, em 1974, depois nos campos de refugiados da Tailândia, em 1975, e na guerra do Líbano, em 1976.

O prêmio é estimado em US$ 2 milhoes e será recebido oficialmente dia dez de dezembro na Noruega.

Segundo o presidente dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), Philippe Biberson, ``nao é um orgulho e sim um desafio' receber o prêmio.

``Meu primeiro pensamento vai para todos os médicos sem fronteira que estao pelo mundo, todos os voluntários, todas as pessoas que nos ajudam em campo, isso (o prêmio) deve aquecer seus coraçoes', acrescentou Biberson, ao ser entrevistado no escritório da MSF em Paris, onde o anúncio foi recebido com uma explosao de alegria.

``Tantos esforços recompensados hoje com algo tao bom é genial', disse Cecile Guthmann, assessora de imprensa da organizaçao humanitária. "É incrível, sente-se um entusiasmo, uma alegria imensa, uma emoçao particular, principalmente porque há vários anos éramos indicados para o prêmio", afirmou Guthmann.

Bernard Kouchner, co-fundador da MSF, declarou-se ``muito emocionado' com a atribuiçao desta sexta-feira do Prêmio Nobel da Paz. Ex-ministro francês, Bernard Kouchner é hoje administrador civil da ONU em Kosovo.

``Evidentemente, isto me comove profundamente. Penso também nos que morreram sem socorro, nos milhares que morreram esperando que alguém batesse à porta', declarou á emissora de rádio estatal francesa France Info. "Estou muito emocionado e consciente da importância política desta recompensa. Existem muitos detratores, todos sabem, como também há pessoas que zombam desse trabalho', acrescentou.

Agências no mundo - A organizaçao humanitária Médicos sem Fronteiras é uma rede composta de 19 agências no mundo e com 2.000 voluntários em 80 países; o secretariado internacional fica em Bruxelas.

A MSF é uma associaçao de ajuda médica de urgência que atua durante as guerras, conflitos ou catástrofes naturais.

Cinco seçoes operacionais sao encarregadas de decidir sobre os programas de ajuda às populaçoes desfavorecidas. Estao situadas em Paris (França), Bruxelas-Luxemburgo, Amsterda (Holanda), Barcelona (Espanha) e Genebra (Suíça).

As delegaçoes ficam nos seguintes países: Alemanha, Austrália, Austria, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Hong Kong, Itália, Japao, Noruega, Suécia e Gra-Bretanha.

O presidente do secretariado internacional é James Orbinsky, um médico canadense.

A MSF dispoe de duas bases logísticas, uma em Bordeaux, França, e a outra em Bruxelas. O material médico logístico e sanitário é enviado a partir da Europa às zonas de intervençao.