Economia Titulo
Meneguelli quer o Sesi ajudando no Fome Zero
Vinícius Casagrande
Do Diário do Grande ABC
09/02/2003 | 20:45
Compartilhar notícia


O ex-deputado federal Jair Meneguelli (PT-São Caetano) assumiu na última quarta-feira a presidência do Conselho Nacional do Sesi. Meneguelli é o primeiro ex-metalúrgico a assumir o cargo, ocupado tradicionalmente por empresários. Com o fato inédito, o petista pretende dar à entidade uma linha mais social e trabalhar para ajudar nos projetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de combate à miséria e à fome. Eleito terceiro suplente do PT nas últimas eleições, Meneguelli afirmou que mesmo que surja uma cadeira na Câmara dos Deputados não pretende deixar o Sesi. “É um desafio importante estar num mundo diferente, no mundo tradicionalmente empresarial. Prefiro cumprir essa missão”, disse em entrevista ao Diário.

O petista afirmou ainda que a nomeação feita pelo presidente Lula contou com o respaldo do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, e do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva.

Nomeado para um cargo de confiança do presidente Lula, Meneguelli fez críticas à ala radical do PT e defendeu a punição aos parlamentares que desobedecerem as determinações do partido. O petista citou o exemplo da deputada Luíza Erundina, que foi contrária à decisão do PT de não participar do governo Itamar Franco, e do deputado Eduardo Jorge, que desrespeitou a determinação de votar contra a prorrogação da CPMF. “Acho que se não houver a figura da punição, a figura da advertência, se não tiver isso, aí perde o controle”, afirmou.

Ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Meneguelli defendeu que o movimento sindical tenha sua autonomia em defesa dos trabalhadores. “O presidente da CUT não responde ao Lula, responde aos trabalhadores”, disse.

DIÁRIO – O sr. é o primeiro ex-metalúrgico a assumir a presidência do conselho do Sesi. O que muda na entidade com esse fato?
JAIR MENEGUELLI – Não sei o que muda, mas evidente que é um fato inédito, sem dúvida nenhuma. Em quase 60 anos, o Sesi sempre foi comandado por um empresário ou alguém ligado aos empresários e agora, pela primeira vez, é um ex-metalúrgico e ex-dirigente sindical. Acho importante. É importante porque tenho pleno apoio do presidente da CNI, Armando Monteiro, e apoio do Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp. Há uma compreensão no meio empresarial de que nós estamos em tempo de mudanças. Tenho projetos de democratização do Sesi, participação tripartite do Sesi na sua plenitude. Isso ainda não é resultado do meu projeto, mas já é um passo. Esse projeto está na Câmara, vai continuar tramitando e vou continuar lutando por ele e pela democratização do Sesi.

DIÁRIO – O sr. disse que teve pleno apoio dos presidentes da CNI e da Fiesp. Como foram essas negociações? Não houve nenhum tipo de impedimento por parte desses empresários para com a indicação?
MENEGUELLI – Nenhum tipo de impedimento. A minha preocupação, quando fui falar com eles, era exatamente essa, em não causar nenhum tipo de constrangimento ao presidente da República, porque eu entendia que nesse momento nós não devíamos entrar em conflito com ninguém, muito pelo contrário. Precisamos do apoio de todos para consertar o país. De pronto, recebi apoio, e o Armando Monteiro manifestou isso ao José Dirceu (ministro da Casa Civil) e o Horácio ao Lula.

DIÁRIO – Qual é exatamente a autonomia do presidente do conselho do Sesi?
MENEGUELLI – Quem compõe o conselho é um representante do Ministério do Trabalho, o presidente da CNI, e os presidentes das federações das indústrias de todos os Estados. É esse o conselho que discute e estabelece as metas, os programas do Sesi. Depois, tem o Departamento Nacional e os departamentos estaduais, que executam o orçamento. Executam as metas estabelecidas no conselho. Define as metas e depois fiscaliza. Todos os regionais prestam contas ao conselho, ao presidente, na verdade. Vamos, inclusive, fazer uma auditoria preventiva.

DIÁRIO – Mas quanto à autonomia do presidente em si, tem alguma decisão específica que é sua ou tudo é definido com todos esses membros do conselho?
MENEGUELLI – Tudo é definido no conselho, que tem na presidência a estrutura. O orçamento para este ano é de R$ 11 milhões. Esse orçamento, na verdade, é para manutenção do conselho e funcionários, que são cerca de 35. São três reuniões anuais ordinárias, fora as extraordinárias, e tem uma verba de aproximadamente R$ 6 milhões, destinada a estabelecer convênios. O resto é R$ 1,8 bilhão. Isso chega ao conselho e, definidas as metas, é redistribuído proporcionalmente a cada Estado.

DIÁRIO – Quais as prioridades do sr. na presidência do conselho do Sesi?
MENEGUELLI – O Sesi foi fundado em 1946 e tem uma tradição e um nome. O Sesi goza de um respeito e tem escolas extraordinárias, que são disputadíssimas. No ano passado, teve um atendimento de 2,5 milhões de serviços odontológicos, atendeu 2,5 milhões de pessoas. Agora, quais são as duas coisas que pretendo levar para o conselho? Primeiro, quero ampliar o serviço social do Sesi. Hoje, quem tem direito são os trabalhadores da indústria e seus dependentes, mas quero ampliar os serviços sociais para além desses funcionários. A segunda, na minha opinião a grande meta que vou levar ao conselho, é como integrar todo esse trabalho social do Sesi no combate à miséria e à fome no país.

DIÁRIO – Como fazer para tornar o Sesi mais social e atingir essas duas metas?
MENEGUELLI – Só assumi a presidência na quarta-feira. Não fizemos uma transição como o governo fez. Então, chegamos e entramos no Sesi, mas temos pouco conhecimento do Sesi. O que nós queremos agora é entrar lá e apresentar as propostas. Pode ser que sejam aprovadas, pode ser que não, ou então que recebam emendas, mas nós vamos levar as propostas. Estamos com essas duas metas, de ampliar para além dos trabalhadores da indústria e trazer isso para essa nova etapa do país, que é no combate da miséria e da fome. Entramos agora, mas a meta é essa e vamos querer discutir. Temos certeza de que os empresários estão sensibilizados para esse programa do Lula.

DIÁRIO – O sr. disse que são cerca de 35 funcionários. O sr. já fez as nomeações? Já pensou nesses nomes? Deve ter alguém aqui da região?
MENEGUELLI – São funcionários celetistas. É uma entidade privada, e qualquer alteração, qualquer mudança, tenho de demitir e contratar. Evidentemente que vou aproveitar vários quadros de carreira do Sesi, porque estão lá há muitos anos. Para alguns postos-chave estamos conversando com várias pessoas. Conversei com o Dória, e ele ficou de me dar resposta. Ele é um companheiro nosso e um dos maiores quadros do partido. O Dória é marido da Miriam Belchior, que foi para Brasília com a família, e o estou convidando para integrar essa equipe para a gente modernizar, mudar e qualificar esse trabalho.

DIÁRIO – Quantas unidades do Sesi existem no Grande ABC?
MENEGUELLI – Tem em São Bernardo, Diadema, Santo André e São Caetano. Isso é uma outra coisa a ser discutida, porque a maior concentração é nas regiões Sul e Sudeste, de São Paulo para baixo, um pouco Minas. Daí para cima, pelos alfinetinhos que tem lá no mapa do Brasil, é muito pouco. É outra coisa que quero discutir. O Sesi investe muito em educação, e possivelmente deve ser mal distribuído e não deve estar atendendo as regiões mais carentes. Podemos discutir, porque a preocupação deve ser nacional e não localizada.

DIÁRIO – Para os Sesis da região, existe algum projeto específico ou eles entram nesse programa global?
MENEGUELLI – Entram nesse projeto global. Precisei esperar para tomar posse, para tomar ciência do Sesi na sua plenitude. Venho do Sistema S, fui formado pelo Senai, conheço um pouco o trabalho do Sesi. Tomei posse na quarta-feira e comecei a visitação na quinta-feira, a partir de São Bernardo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;