O único sobrevivente entre os três jovens eletrocutados em outubro por um transformador de Clichy-sous-Bois, na periferia de Paris, desmentiu nesta quinta-feira a versão do governo e afirmou que a polícia os perseguia quando ocorreu o acidente, o que acabou provocando os piores distúrbios sociais que a França conheceu desde a revolta estudantil de maio de 1968.

Muhittin Altun, 17 anos, que finalmente deixou o hospital onde se recuperava de suas graves queimaduras, declarou em entrevista ao jornal Le Parisien que estava jogando futebol com seus amigos Zyed e Bouna quando um carro da polícia começou a persegui-los.

De acordo com Altun, os três correram então até um transformador, onde Zyed e Bouna acabaram morrendo eletrocutados.

"Ficamos uns 30 minutos dentro da casa do transformador. Queria sair dali e voltar para casa, porque não havia feito nada de errado. Mas ouvíamos vozes, latidos de cães, e a eletricidade nos alcançou. Vi minhas roupas pegar fogo, como em um pesadelo", contou o adolescente.

Segundo o ministério francês do Interior, "a polícia não estava perseguindo fisicamente as vítimas", que "acreditaram erradamente" ser alvo dos policiais.

A procuradoria de Bobigny abriu em 3 de novembro uma investigação por não assistência à pessoa em perigo, após uma denúncia das famílias dos três jovens.

A morte dos dois adolescentes provocou 21 noites de violência nos bairros periféricos de Paris e de outras grandes cidades francesas. O governo decretou em 9 de novembro o estado de emergência, vigente até hoje.

De acordo com Le Parisien, Altun recebeu em meados de novembro no hospital a visita de Bernadette Chirac, a esposa do presidente francês Jacques Chirac.