Economia Titulo Crise
Braskem diz que pode fechar na região

Problema é falta de contrato de longo prazo para
matéria-prima; aditivo vence dia 15 de dezembro

Leone Farias
Enviado a Coatzacoalcos (México)
13/11/2015 | 07:27
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Divulgação


O presidente da Braskem, Carlos Fadigas, confirmou ontem que a empresa pode fechar suas fábricas no polo petroquímico do Grande ABC se não conseguir chegar a um acordo de longo prazo com a Petrobras para que a estatal forneça matéria-prima para sua produção.

“Em não havendo um acordo, há o risco de fechamento, e o polo de São Paulo (da região) é um dos mais ameaçados, até porque é um dos mais antigos (existe desde 1972)”, disse o executivo. Também é o menor do País, com capacidade de fabricação de 700 mil toneladas anuais de eteno (o material que serve para fabricar as resinas plásticas, que vão para a confecção de embalagens e peças). No Brasil, a Braskem tem, além da unidade da região, centrais produtoras na Bahia e no Rio Grande do Sul, respectivamente, com produção de 1,25 milhão e 1,2 milhão de toneladas anuais.

O tempo está correndo, já que há mais de dois anos a petroquímica tenta chegar a um entendimento com a Petrobras, e nesse período foram cinco aditivos que prorrogaram temporariamente o suprimento, sendo que o último, acertado em outubro, vence no dia 15 de dezembro.

A continuidade das operações da empresa é muito importante para a economia da região, já que cerca de 60% da arrecadação de Mauá vêm do polo, que, por sua vez, também representa em torno de 30% da de Santo André. E, segundo o Sindicato dos Químicos do ABC, o fechamento dessa atividade da Braskem poderia gerar a perda de 31 mil empregos nessa cadeia produtiva, das quais 11 mil diretamente do setor químico e outros 20 mil das indústrias transformadoras de plástico (fabricantes de peças e embalagens com esse material).

O acordo de suprimento é necessário, mas não é suficiente para garantir que a empresa vai se manter no Polo no longo prazo. “Precisamos continuar trabalhando para nos cercarmos de outros fatores, precisamos de câmbio favorável, petróleo barato e desoneração de matéria-prima. Eu diria que é um esforço permanente”, acrescentou.

ENTRAVES - Fadigas citou ainda os entraves na negociação. Segundo ele, a Petrobras, que vinha importando gasolina, há alguns anos decidiu adquirir nafta (derivado de petróleo e uma das matérias-primas para a produção de resinas plásticas) do Exterior para vender à Braskem, dando preferência a produzir o combustível dos carros com sua própria matéria-prima.

O problema é que a estatal passou a querer cobrar um adicional (que giraria em 5% a 10%) sobre o valor da cotação europeia da nafta, que já é a mais cara do mundo – atualmente está em US$ 431 a tonelada.

Para efeito de comparação, a nova fábrica da Braskem (em parceria com a mexicana Idesa), que vai ser inaugurada em dezembro, tem capacidade produtiva de 1,05 milhão de toneladas anuais de eteno e receberá etano (outro insumo que também serve para se fazer resinas) da petrolífera Pemex (Petróleos Mexicanos), com desconto sobre o menor valor de referência mundial, que é o dos Estados Unidos – hoje cotado a US$ 136,38.

O executivo da gigante petroquímica brasileira assinalou ainda que é habitual, por causa dos tamanhos dos pedidos e também da constância no consumo, que a empresa e também concorrentes dos Estados Unidos e da Europa consigam suprimento com desconto para as fábricas lá fora no mercado norte-americano e também na Europa. “No Brasil, o desconto é tratado pela contraparte como um absurdo, mas é algo frequente, é comum, é natural”, observou.

Durante a negociação com a Petrobras, a Braskem ofereceu a alternativa de ter cálculo de valor que levasse em conta duas referências (europeia e norte-americana) ou então de pagar um valor variável tomando como base a cotação europeia, em que, em momentos em que o petróleo estivesse barato (como agora, em que está na faixa de US$ 50), pagaria um pouco mais, e quando esse produto se valorizasse, a estatal cobraria abaixo da cotação. “Não aceitaram”, disse.

Apesar das dificuldades, Fadigas segue confiante de que será possível chegar a um entendimento com a estatal e garantiu que o grupo continua interessado nas atividades no País, apesar de vir reforçando suas operações no Exterior – estão sendo aportados US$ 5,2 bilhões na unidade mexicana. É o maior investimento para nova fábrica de uma empresa brasileira no Exterior.

SEM OPERAÇÃO - As fábricas da Braskem no polo do Grande ABC estão paradas desde 14 de outubro, por causa de acidente (explosão que ocorreu em uma das instalações, que gerou incêndio na fábrica). Estima-se que essa parada já representa prejuízo de US$ 50 milhões para a companhia. Segundo o executivo, a retomada das operações deve ocorrer na semana que vem.

O jornalista viajou a convite da Braskem 




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