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Bancos perderam com a inflação no pós-real
Adriana Mompean
Do Diário do Grande ABC
12/06/2004 | 23:44
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   Apesar de pessoas físicas e empresas continuarem transferindo um poder de compra relevante para os bancos, o combate à inflação no período pós-real (de 1995 a 2003) impulsionou queda nas transferências inflacionárias totais no país. Segundo estudo realizado pelos pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rubens Penha Cysne e Paulo Coimbra-Lisboa, no período pré-real (1947 a 1993), a média anual das transferências inflacionárias de indivíduos e empresas para os bancos, incluindo o Banco Central, era de US$ 19,2 bilhões, que correspondiam a 4,21% do PIB (Produto Interno Bruto), e no período pós-real, a média anual de transferências inflacionárias totais foi de US$ 2,5 bilhões, o que equivale a 0,55% do PIB, uma queda da ordem de 87%.

Se for considerado apenas 2003, o número retrocede para algo em torno de US$ 1,92 bilhão, o que corresponde a 0,42% do PIB, enquanto no período de 1947-2003, a média anual foi de 3,59%, o que equivale a uma redução significativa da ordem de 88,3%.

O estudo feito por Cysne e Coimbra atualiza uma série histórica detalhada por Mário Henrique Simonsen e por Cysne em 1995. O estudo intitulado Imposto Inflacionário e Transferências Inflacionárias no Brasil analisou o período de 1947 a 2003. Os números do trabalho foram calculados considerando o câmbio médio de 2003 e com base no valor do PIB do mesmo ano. As transferências inflacionárias totais são a soma do imposto inflacionário e de transferências inflacionárias.

O imposto inflacionário é definido como sendo a sistemática perda de poder aquisitivo da moeda, que penaliza a população e beneficia emissores de dinheiro, decorrente do fato da moeda render juros nominais nulos e conseqüentemente estar sistematicamente estar desprotegida contra a inflação. As transferências inflacionárias, por sua vez, podem ser explicadas pelos depósitos à vista do público que não rendem juros.

O estudo revelou que do período de 1947 a 2003, num total de 57 anos, o total de transferências inflacionárias para o setor bancário atingiu a impressionante cifra de US$ 934,8 bilhões, montante que equivale a pouco mais de duas vezes o PIB de 2003, de US$ 456 bilhões. “É um número forte, monstruoso, fenômeno que ocorreu devido a inflações elevadas”, diz Coimbra. No período de 1947 a 2003, as transferências inflacionárias apresentaram média anual de US$ 16,4 bilhões, o que equivale a 3,59% do PIB. De acordo com dados do estudo, do montante de US$ 934,8 bilhões, 54,6% (US$ 510,4 bilhões) foram transferidos em favor do Banco Central e 45,4% (US$ 424,4 bilhões) em favor dos bancos comerciais.

Segundo Coimbra, as transferências inflacionárias totais cresceram até o início da década de 60, sobretudo devido a inflação e a alta base monetária da época. “Houve uma queda do início dos anos 60 até o começo da década de 80, período em que a inflação embora fosse crescente, o estoque da base monetária não era tão elevado”, diz. Coimbra diz que na segunda metade dos anos 80, os valores cresceram devido a níveis mais elevados de inflação. “Entretanto a partir do Plano Real, o combate a inflação impulsionou a queda verificada nas transferências inflacionárias totais. Quanto menor for a inflação, menor será a perda do poder aquisitivo dos detentores de moeda e menor será a transferência para o setor bancário”, diz.




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