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Um ano após vitória, o real Brasil de Dilma

Inflação de quase 10%, economia em recessão e alta de desemprego marcam início do 2º mandato da petista

Fábio Martins
Júnior Carvalho
26/10/2015 | 07:46
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Celso Luiz/DGABC


Depois de um ano da vitória da presidente Dilma Rousseff (PT), o real cenário do Brasil escondido durante a campanha eleitoral veio à tona, estampando crise aprofundada nas finanças e instabilidade que se estende para o campo político. O futuro prometido no pleito pela petista é totalmente diferente daquele projetado para os dias atuais, configurando-se, atualmente, em inflação oficial com índice próximo a 10%, alta de desemprego – 13,6% da PEA (População Economicamente Ativa) na região – e economia em recessão. O panorama negativo vivenciado pelas prefeituras do Grande ABC, de queda acentuada da receita e pessimismo, também para o ano que vem, é prova concreta do caos que atinge o País.

Na ocasião da disputa pelo Planalto, Dilma – venceu o segundo turno no páreo mais apertado da história, com 51,64% dos votos (embora tenha perdido em cinco cidades da região), contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB) –, diante da intensa polarização na etapa final, prometia estabilidade econômica, manutenção dos juros e inflação equilibrada. A prévia da inflação oficial, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), avançou em outubro para 9,77% no acumulado de 12 meses. Apenas neste um ano, desde o pleito, o volume cresceu 3,15% sob o impacto do aumento represado dos preços do combustível, botijão de gás e energia elétrica – estava em 6,62%.

Especialistas consideram que há poucas alternativas a empresas e governos municipais na tentativa de reverter o quadro desfavorável. E o cenário tem influência direta na vida do cidadão. Professor doutor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), o economista Leandro Prearo afirma que a elevação da inflação obrigará prefeituras a fazerem reajustes que acompanhem esse patamar. “Com a arrecadação diminuindo, desemprego crescendo, inflação alta, e consumo menor, esses aumentos de impostos significam que a população, a pessoa física, é que está pagando a conta (do rombo nos cofres públicos)”, avalia. “Essa é a grande perversidade.”

Secretário de Finanças de Diadema, Francisco José Rocha (PSDB) sustenta que existem problemas sérios de ajustes por conta da arrecadação insuficiente. Segundo ele, a entrada de recursos ao erário não acompanha a inflação. “Enquanto há esse aumento de 9,77%, a receita cai 10%. Só de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a queda é de R$ 100 milhões, com previsão de angariar R$ 300 milhões, volume próximo do índice de 2012. Com essa barreira, não fecha a conta”, disse, ao acrescentar que, frente a situação, o governo necessitará chamar empresas para “negociar contrato por contrato”.

Com essa perspectiva, a maioria das categorias de trabalhadores, seja no setor público quanto no privado, não alcança repasse salarial no mesmo nível. As prefeituras da região enfrentam dificuldade para quitar o acréscimo anunciado aos servidores. As empresas, por sua vez, estão promovendo lay-off e demissões. A taxa de desemprego no Grande ABC aumentou. Atualmente, há 188 mil pessoas sem ocupação, de acordo com o Seade.

Coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá, o economista Ricardo Balistiero alega que toda vez que a inflação sobe nesta linha exerce colisão sobre o consumidor, que tende a reduzir o consumo devido aos preços altos e outros fenômenos, como o medo do desemprego. “Com esse cenário, naturalmente a receita cai. Quando tem menos compra e menos produção, há queda de arrecadação. Não tem saída. A inflação é nociva às contas públicas.”

O titular de Finanças de Santo André, Antônio Carlos Granado (PT), corrobora com a tese e cita que o percentual de inflação “mexe no bolso” da população, “afetando indiretamente” as contas. “A população compra menos. Tem queda no produto e impacta, por exemplo, no ICMS.” O Paço deve ter novo deficit financeiro neste ano, assim como amargou em 2014.

O secretário da Fazenda de São Caetano, Jorge Alano Garagorry, analisa que a redução da atividade econômica “está sendo muito mais forte” do que a imaginada. Para ele, a desaceleração abrupta força governos a cortar gastos e estender prazos. “É como correr atrás do rabo.”

Região vira canteiro ‘abandonado’

Logo após assumir as rédeas do segundo mandato, Dilma Rousseff anunciou ajuste fiscal, com bloqueio de R$ 69,9 bilhões no Orçamento vigente, medida negada durante a disputa presidencial. Na lista de contingenciamento, o governo federal travou R$ 25,7 bilhões projetados para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e limitou o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida em R$ 6,9 bilhões. Em setembro, o Planalto divulgou corte de R$ 26 bilhões na peça do ano que vem, reduzindo em R$ 3,8 bilhões as despesas do PAC e R$ 4,8 bilhões ao projeto de moradias.

Diante deste prisma, o Grande ABC virou canteiro ‘abandonado’. Isso porque projetos, planejados pelos governos da região, que tinham garantia de recursos provenientes da União estão com obras atrasadas, tendo prorrogação de prazos, ou sequer saíram do papel. Dentro do pacote de Mobilidade Urbana nas sete cidades, somente Rio Grande da Serra registra andamento. Sem dinheiro, as demais aguardam tramitação.

O Museu do Trabalho e do Trabalhador, em São Bernardo, bem como intervenções no piscinão do Paço, estão em ritmo moroso, com defasagem nos repasses financeiros. A Prefeitura de Santo André, por exemplo, também espera liberação de verbas federais para iniciar a construção da ETA (Estação de Tratamento de Água) do Pedroso, com empresa já contratada, e de unidades de creches. 




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