Marco Antônio Vilalba, o Passoca, há mais de 20 anos vive em Ribeirão Pires, mesmo local onde passou a infância, sempre mexendo com música. Dos bailinhos com canções dos Beatles e Johnny Rivers, começou a fazer seu próprio som, que foi adquirindo tom urbano misturado à viola caipira, como pode ser observado no disco "Suíte Paulistana", com lançamento amanhã no Sesc Belenzinho, na Capital.

Com olhar poético, o compositor, músico e cantor joga luz sobre detalhes de São Paulo que, apesar de estarem à vista, são relegados por muitos. A garoa, o abandono e a diversidade musical estão registrados em 12 canções divididas em três suítes: da garoa, vira-lata e passarinho.

"O processo de criação é de observação, como na música "Don Caixote e Seu Cão", que fala sobre o crack. Todos reparam nisso, mas há hipocrisia, distanciamento. Todo mundo vê, mas ninguém faz nada", conta Passoca, que não é só crítico da cidade, mas explorador de suas belezas, a exemplo de "O Relógio da Paulista", na qual descreve passeio por cartões postais da metrópole.

"Eu faço o que chamaria de música caipira de câmara, o regional somado ao quarteto de cordas", diz ele, que já resgatou a obra de João Pacífico e tirou do baú canções inéditas de Adoniran Barbosa em seus últimos projetos. "São Paulo tem essa característica: são muitos fortes o caipira, o paulista e mineiro, o samba e a viola."

Lamentando a falta de oportunidades para os artistas em sua cidade, ele conta que o bom de morar em Ribeirão Pires é o mato. "É a natureza que ainda resta no fundão do Grande ABC. Aqui moram muitos artistas que não têm relação com a cidade porque o nível cultural é péssimo. Só há shows para as massas."

Passoca - Música. Amanhã, às 21h. No Sesc Belenzinho - Rua Padre Adelino, 1.000 - São Paulo. Tel.: 2076-9700. Ingr.: R$ 6 a R$ 24.