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Frango com polenta cede espaço ao quilo nos restaurantes
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
19/07/2009 | 08:01
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Ao longo dos anos, o tradicional frango com polenta que por muito tempo deu nome à rota dos restaurantes localizada à avenida Maria Servidei Demarchi, em São Bernardo, foi cedendo espaço ao self-service, opção mais barata que passou a ser a eleita dos almoços durante a semana e, de quebra, segurou o movimento do estabelecimentos.

A mudança começou a se dar no fim dos anos 1990. quando uma crise no setor industrial debandou diversas indústrias do Grande ABC, com transferências de unidades e redução de postos de trabalho. A Volkswagen, por exemplo, chegou a ter 48 mil funcionários e hoje mal atinge 12 mil.

Para Nini Demarchi, proprietário de um dos estabelecimentos da rota, instalado no mesmo local há 52 anos, outro fator que justifica a diminuição do movimento foi a redução dos salários dos metalúrgicos. "O peão de linha da Volkswagen e da Basf, por exemplo, era figura constante no restaurante nos anos 1970 e 1980. Com as ações ostensivas do sindicato diante das fábricas, houve a contrapartida patronal e consequente redução do poder aquisitivo do trabalhador", explica o empresário.

Com a entrada do século 21, as reservas para casamentos, aniversários e formaturas passaram a representar 70% do faturamento. Mesmo assim, de três anos para cá, Demarchi afirma que foi preciso diversificar para recuperar perda da ordem de 30% dos ganhos do restaurante. Os shows que antes eram de Ray Conniff e Pepino de Capri, foram direcionados para o samba, pagode e sertanejo; a ideia era atrair público mais jovem.

O self-service foi a outra saída; por R$ 27,90, o quilo a frequência de clientes saltou de 100 para 300 por dia. Nessa história, o frango com polenta - R$ 30 a porção -, que nos anos 1980 era a sensação do restaurante de Nini, hoje segura 50% dos pedidos, em grande parte por clientes fiéis. "Antes, 80% dos clientes vinham de São Paulo, especialmente, para comer o prato tradicional. Hoje, praticamente só os italianos o pedem."

Laerte Demarchi Júnior, diretor de marketing de outro restaurante da rota, com 60 anos de existência, concorda com Nini, que é seu parente: "Hoje, além do trânsito, há muita concorrência. Só aqui na rua existem cerca de 15 restaurantes".

No final dos anos 1990, a partir da sugestão de um executivo da Volks, o restaurante dirigido por Demarchi Júnior também passou a oferecer comida por quilo. "Havia 800 funcionários terceirizados que não podiam comer mais no restaurante da montadora", relatou Júnior.

Há um ano e meio, lançaram mão de outra alternativa para recuperar o movimento, que havia caído em 30%, cerca de 180 pessoas por dia. Criou-se o Demarchi Express, a R$ 14,90 para homens e R$ 13 para mulheres - espécie de linha popular do restaurante. "Víamos as padarias lotadas, e concluímos que também precisávamos atingir esse público."

Agora, somam cerca de 400 frequentadores diários só de self-service na casa. Aliado a isso, o restaurante passou a investir pesado no aluguel do espaço para eventos corporativos e treinamentos. "Isso compensou as perdas de faturamento durante a semana", informou Junior. "Nosso foco hoje está na fidelização dos clientes por meio de promoções e envio malas diretas que anunciam nossos pacotes", complementou.

E o saudoso frango com polenta, que há 30 anos representava 80% das vendas, atualmente, não passa de 20% do total comercializado pela casa. Mesmo assim, são consumidos hoje, mensalmente, cerca de 5.000 quilos de polenta e 15.000 quilos de frango.




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