Mesmo com o dólar chegando a R$ 4 em setembro, as exportações da região seguiram intensificando movimento de queda. No mês passado, as empresas dos sete municípios totalizaram US$ 369 milhões em vendas ao Exterior, 7% menos do que os US$ 398 milhões com as encomendas a outros países em agosto, quando já haviam caído 25% ante julho. As duas retrações seguidas ocorrem depois de três meses de alta nas receitas obtidas com clientes lá fora. Com isso, o total exportado pelo Grande ABC nos nove primeiros meses de 2015, que atingiu US$ 3,8 bilhões, registra recuo de 6% em relação ao alcançado no mesmo período de 2014.

Isso apesar da valorização da moeda norte-americana em torno de 50% desde janeiro até agora, que favorece o comércio de produtos brasileiros com o mercado internacional, já que as indústrias podem ganhar mais reais com o mesmo valor em dólar do produto. Porém, a cotação favorável aos exportadores não significa que é possível recuperar com facilidade mercados no Exterior, depois de anos de câmbio depreciado. “É preciso conquistar novamente os clientes perdidos, e isso demora”, diz o diretor do departamento de Comércio Exterior da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, José Rufino Filho. Além disso, a retração do mercado interno fez com que muitas empresas ficassem descapitalizadas, sem condições de investir para direcionar esforços com o objetivo de ampliar as vendas a outros países. “Está difícil até para adquirir matéria-prima”, afirma.

Somam-se ao cenário ruim da demanda interna as elevações de custos, por exemplo, a alta de tarifas de energia elétrica e do preço dos combustíveis, e aumentos dos juros (ou seja, o crédito ficou mais caro), além do impacto do câmbio sobre insumos e peças importados. “E a carga tributária continua elevada”, lembra o vice-diretor da regional do Ciesp de São Caetano, William Pesinato.

Há dificuldade tanto na ampliação de embarques de veículos – na pauta dos produtos exportados por São Bernardo, pela classificação do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), veículos para transporte de mais de dez pessoas (ônibus) registram retração de 68% neste ano até setembro ante mesmo período de 2014 – quanto de pneus – recuo de 13% –, que é o segundo item mais vendido ao Exterior por Santo André, que concentra fábricas da Bridgestone e da Pirelli.

O fato de o câmbio ajudar, mas não ser suficiente para ampliar as encomendas da indústria ao mercado internacional não é exclusividade da região, aponta estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). De acordo com essa análise, é preciso que o governo federal promova melhor coordenação com a iniciativa privada para a intensificação de negociações comerciais.

Entretanto, enquanto Chile, México e Estados Unidos fecharam recentemente acordo de livre comércio global que envolve, ao todo, 11 países, o Brasil fica para trás. “Esse negócio de Mercosul devia acabar, só atrapalha fecharmos acordos”, avalia Pesinato.

BALANÇA - O vice-diretor do Ciesp de São Caetano destaca ainda que, assim como ocorre na balança comercial de todo o País, o saldo (diferença entre exportações e importações) vem melhorando não por causa do crescimento das vendas ao Exterior, mas devido à redução nas compras de itens de outros países, em virtude da parada na economia interna. No caso da região, as aquisições de produtos estrangeiros de janeiro a setembro apresentam retração de 26% ante igual período de 2014, totalizando US$ 3,3 bilhões.