A China expressou vontade de comprar mais papéis da dívida pública espanhola, durante visita a Madri do vice-primeiro-ministro Li Keqiang, prometendo apoio semelhante a Portugal e Grécia.
A iniciativa, segundo analistas, reflete interesses estratégicos e econômicos de Pequim mas que, na realidade, não representa de nenhuma maneira uma solução para a crise das dívidas soberanas na Europa.
Keqiang afirmou que seu país "apoia as medidas adotadas pela Espanha de reajuste econômico e financeiero", o que se traduz pela compra de sua dívida pela China.
A visita do dirigente chinês à Espanha acontece depois de semanas de temores do mercado sobre a capacidade da Espanha fazer frente à própria dívida e sobre um eventual plano de resgate como o da Grécia e Irlanda para cobrir seus déficits.
Madri e Pequim já assinaram anteriormente 15 acordos institucionais e comerciais, além de uma cooperação na América Latina, através do BBVA e o Banco de Desenvolvimento da China.
A China já era um importante comprador da dívida pública espanhola e não reduziu suas aquisições. "Compraremos mais (obrigações espanholas), dependendo das condições de mercado", assegurou Li, citado pela agência Xinhua.
Pequim já havia prometido ajudar a Grécia e Portugal, também através da compra de obrigações de Estado - uma decisão que, segundo os técnicos, poderia aliviar as dificuldades da Zona do Euro, mas apenas momentaneamente.
"A curto prazo, a China contenta-se em transmitir a imagem do príncipe que aparece para socorrer a Europa, e isso pode sustentar um pouco o mercado", declarou Mark Williams, do gabinete de consultoria Capital Economics.
"Mas os problemas europeus são estruturais, não algo que China possa necessariamente resolver, embora consiga tampar buracos", acrescentou.
A declaração do vice-primeiro-ministro chinês, "apesar de ajudar a gerar confiança, seguramente não modificará radicalmente os problemas fundamentales da Espanha", opinou por sua vez Alistair Thornton, do IHS Global Insight.
A China jamais revelou o montante de suas compras de obrigações de Estado europeias, uma informação que tampouco foi divulgada nem por Bruxelas nem pelos diferentes membros da União Europeia.
A maioria das compras da dívida soberana teria sido feita, no entanto, dos países apontados como estáveis, especialmente Alemanha e França, segundo os especialistas.
Já os Estados Unidos, que publicam regularmente a lista de seus credores, apresentam a China em primeiro lugar, com mais de US$ 900 bilhões em bônus do Tesouro.
"Estabilizar a economia europeia e o euro é do maior interesse da China", declarou Tao Dong, economista do Crédit Suisse First Boston em Hong Kong.
"Estrategicamente, também é importante para China reforçar sua relação com a Europa", acrescentou.
A China tenta transmitir imagem de uma potência responsável, mas busca investir no exterior para não inflar demasiado suas colossais reservas de divisas, que somavam US$ 2,64 trilhões no final de setembro, e alimentar uma inflação.
O banco central chinês é obrigado a injetar na economia para cada dólar recebido um montante equivalente em iuanes.
As compras da dívida pública europeia, no entanto, não permitirão resolver os desequilíbrios no intercâmbio sino-europeu, advertiu Jonathan Holslag, do Instituto de Estudos da China contemporânea de Bruxelas (BICCS).
"Isto porque, enquanto a Europa prosseguir encerrada num círculo vicioso de medo, inércia e declive econômico, suas relações com a China serão marcadas por frustração e desconfiança", concluiu.
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