Política Titulo Editorial
Saúde e ética
Do Diário do Grande ABC
08/10/2015 | 08:35
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Aline Pietri/DGABC


Há quem diga que o problema da Saúde pública no Brasil está relacionado à falta de dinheiro. A atitude de médico de Ribeirão Pires, denunciada em reportagem exclusiva publicada hoje pelo Diário, em trabalho investigativo e irrepreensível das repórteres Natália Fernandjes e Vanessa de Oliveira, demonstra que a questão não é apenas de financiamento. Há inúmeros ralos pelos quais se esvai grande parte das verbas destinadas originalmente ao combate das doenças no País, inclusive ralo ético.

Alexandre Buzaid Neto é médico da rede pública de Ribeirão Pires desde junho de 2012. Concursado, ele atua como plantonista socorrista na rede de urgência e emergência da cidade, em regime de 12 horas de trabalho por 36 de descanso. Pelo serviço, recebe mensalmente R$ 10.662 dos cofres públicos. Em 21 de agosto, apresentou aos superiores atestado de lombalgia, motivo que o levou a obter licença, remunerada, de 60 dias.

Embora apresente dificuldade para atender pacientes na rede pública ribeirão-pirense, a ponto de precisar se licenciar por dois meses do serviço público para se recuperar das dores nas costas, Alexandre Buzaid Neto se mostra completamente habilitado para atender quem o procura em seu consultório particular, localizado em Santo André, e tem condições de arcar com honorários de R$ 600.

O episódio envolvendo o médico, revelado em detalhes nesta edição, demonstra o quanto o bom andamento da Saúde não depende apenas de recursos pecuniários. A ausência de comprometimento – e ética – de alguns funcionários pode desestruturar o sistema. Exatamente como ocorre em Ribeirão Pires. Enquanto o doutor Alexandre Buzaid Neto clinica em Santo André, aparentemente sem sentir o incômodo das dores lombares, quem depende do atendimento público na cidade fica desassistido. Semana passada, o vigilante Carlos Antônio da Silva procurou a UPA local porque o filho passava mal. Ao ouvir que não havia clínico geral, foi buscar auxílio em Suzano. Dá para culpar a falta de dinheiro pelo socorro não prestado?  




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