Vinho, arte e prazer. Assim pode-se definir a atividade da UVA (União dos Vinicultores Artesanais), que hoje congrega 78 produtores na região. Amantes do bom vinho, em sua maioria descendentes de europeus e com uma história familiar bastante característica, os membros da UVA, assim autodenominados, ainda que de uma maneira informal, transformam em hobby e cultura um ritual movido pela tradição.

O Grande ABC, atualmente, não produz uva. Na época das colônias, havia, entre as plantações, o cultivo de vinhas, mas nada tão expressivo. Se o solo não ajuda, ou se o clima não é propício, não há problemas: com uvas do Sul e de outras origens, os vinicultores da região produzem cerca de 150 mil litros de vinho por ano, geralmente para consumo próprio.

PISA DA UVA - O vinho artesanal passa por um processo de manufatura muito peculiar, e cada safra se difere da outra, bem como os vinhos deste e daquele produtor. Os modos de fazer são bem variados: em uma adega no bairro Taboão, em São Bernardo, anexa à madeireira de sua propriedade, o português Manuel Almeida junta-se aos amigos e realiza a tradicional pisa da uva, na qual as uvas são colocadas num tanque e pisadas conforme manda a tradição europeia de séculos passados. Desta festa, participam amigos, família e interessados, de uma maneira bonita e, para os dias de hoje, bastante inusitada.

O filho de italianos João Luiz Soprano começou a produzir vinho a partir de uma receita médica, quando, ao fazer um check up, recebeu a recomendação do cardiologista para trocar o vinho industrializado pelo artesanal.

Seu pai, Francisco Soprano, também fazia vinho, de maneira bastante rústica na época. Juntando as lembranças da infância, a receita do médico e o prazer do bom vinho, Soprano produz a bebida com o rótulo de sua família e, em sua adega, faz questão de manter a receita na parede.

DEGUSTAÇÃO - Do distrito ecológico de Riacho Grande, os turistas não saem sem degustar ou conhecer a adega existente na casa da família Rosa, bem no centro. Aldo Rosa recebe os visitantes com seus vinhos, pão caseiro, sardella, alicella e patês. Tudo feito ali.

Outras histórias também são interessantes, como o casal que produziu vinho no apartamento, por algum tempo, ou a família Demarchi, que produzia um vinho com o rótulo Piada. O porquê disso? Tomava-se o vinho, ficava-se alegre e ria-se muito.

LIVRO - Está sendo preparado, pela própria UVA, um livro sobre a história dos vinicultores artesanais do Grande ABC. Seu presidente, Marco Antonio Silva, o Kiko, conta que a União é um grupo de amigos reunidos por um mesmo hobby: anualmente, são realizados eventos, degustações, palestras e cursos. Por se tratar de um produto artesanal, feito pelas famílias em casa, sem fins comerciais, o vinho não é vendido. Em alguns restaurantes, pode-se degustá-lo, mas a maioria das receitas é experimentada em festas e nas próprias casas dos vinicultores, já que muitos deles mantêm sua adega particular com a qualidade que costumam produzir.

A UVA e a Prefeitura de São Bernardo pleiteiam, hoje, uma maneira de adaptar a União aos moldes de uma associação, o que envolve legislação. A ideia é viabilizar, num futuro próximo, a Rota do Vinho, produto turístico bastante rico para a região.

Enquanto as conversas prosseguem, os vinicultores continuam recebendo visitantes em suas casas ou adegas particulares, onde contam histórias, explicam os processos, servem vinho e seus acompanhamentos.

Italianos, espanhóis, portugueses, brasileiros, todos unidos em volta da mesa, compartilhando de uma das bebidas mais tradicionais de todos os tempos.

*(Texto de Fábio Silva Gomes, da GT Turismo Regional do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC)