Desejar ser aquilo que não se pode ser. A luta pelo reconhecimento e a obsessão de pertencer a um grupo no qual a condição social não permite.
É com este sonho e impulsos latentes que as personagens Eunice e Natalie, de Insensato Coração, trama de Gilberto Braga, realizam as maiores loucuras e até mesmo perdem o bom-senso das atitudes e comportamentos que norteiam a própria vida.
Na verdade, é possível ver todos os dias o quanto cada uma deixa de lado as oportunidades de felicidade por causa da procura por aquilo que não se tem.
"É algo decorrente da sociedade contemporânea, que é imediatista e quer o reconhecimento não por se ter dom ou trabalho em destaque de merecimento. Querem ser conhecidas para terem poder e prestígio", indica a médica e professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC Fernanda Piotto Fralonardo.
A constatação não fica restrita somente às telenovelas. Programas de reality show exemplificam a valorização da condição do estar no lugar do ser.
Os reflexos contemporâneos podem ser vistos naqueles que desejam ser aceitos e valorizados pela exposição gratuita e não por esforços e talento.
Segundo a psicoterapeuta Cecília Zylberstajn, atualmente há a supervalorização do sucesso absoluto, que é transferido à imagem de uma persona admirável.
"É normal vermos os indivíduos criando um modelo do que consideram ser bem-sucedido e caem justamente na figura de pessoas. A partir disso buscam a felicidade em algo construído", explica.
O preço pode ser alto para o emocional dessas pessoas, que tendem a se frustrar constantemente e a não perceber quem são na essência.
Para Cecília, a ânsia por se transformar em alguém que não se é não chega a ser uma doença, mas sim um problema que merece atenção por sessões de terapia. "O autoconhecimento possibilita a identificação daquilo que realmente faz a pessoa ser feliz e também em ajudá-la a assumir quem é, as falhas e virtudes", finaliza.
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